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, Futebol Feminino

28.09.2016

Postado por Arquivo

A (in)visibilidade do futebol feminino

Há cerca de um mês, quando acabou o ufanismo das Olimpíadas e que a Seleção Feminina já tinha encerrado sua participação, nós da Bola vimos que a coisa não podia parar por aí e cair no esquecimento pelos próximos três anos e meio. Então decidimos nos manifestar e, para tanto, tentar entender melhor o que se passava no cenário do futebol feminino no Brasil.

Arthur Marega Filho

Arthur Marega Filho

Além disso, tendo um site sobre futebol feito por mulheres, vimos que já tinha passado da hora de divulgarmos os torneios que tanto a Seleção como as outras equipes participam. Com isso, passei a escrever sobre o futebol feminino. De cara pensei que seria fácil, afinal, os campeonatos são diminutos em relação ao masculino, tanto em equipes quanto em calendário. Mas aí veio o problema: divulgação.

No site da CBF são apenas notas. Em outros sites de esportes até há um pouco mais de informação, mas pouco. Alguns times só têm notícias suas através dos sites das prefeituras da sua cidade de origem (é prática comum equipes que têm na prefeitura seu grande mantenedor). Além disso, para acompanhar os jogos in loco fica meio difícil, já que as partidas são em dias e horários ruins. E acompanhar jogo da Copa do Brasil pela internet, por exemplo? Nem pensar!

Não vemos a grande mídia cobrir a Copa do Brasil ou o Brasileiro, que parecem estarem sendo disputados num país distante já que não há cobertura e o pouco público é formado apenas por familiares das atletas, mesmo que os jogos sejam de graça.

Em 2015 tivemos o ano da “Visibilidade para o Futebol Feminino”. Mas o que foi feito de concreto neste sentido? Não vimos melhorias. Os jogos continuam extremamente mal divulgados e em horários pífios, como às três da tarde num calor dos infernos onde as atletas passam mal. Soma-se a isso a falta de investimentos.

Lucas Figueiredo/CBF

Lucas Figueiredo/CBF

Sim, temos o Profut. Mas essa é uma questão mal trabalhada. O programa do Governo foi criado para os grandes clubes (do futebol masculino) quitarem suas dívidas em até 20 anos. O futebol feminino virou moeda de troca com o artigo 4 inciso X, que fala da “manutenção de investimento mínimo na formação de atletas e no futebol feminino”. Quem define o quanto deve ser investido ou se é um projeto ao longo da dívida e como deveria ser estruturado? É algo vago.

O Corinthians, por exemplo, só entrou nos campeonatos femininos para cumprir a cláusula ao se unir ao Osasco Audax, assim como o Flamengo, que se uniu à Marinha. Já o São Paulo investe nas categorias de base (até 11 anos), mas não há uma continuidade até a vida adulta das atletas.

Aí, em 2015, as esperanças para que o futebol se tornasse mais popular foram depositadas em Marta e Cia. na tal da “Seleção permanente” visando os Jogos Olímpicos de 2016. E, claro, como o povo preza por resultado, por mais que as jogadoras tivessem feito uma bela campanha, ao perderem e no dia seguinte Neymar conquistar a medalha de ouro, o feminino foi varrido pra debaixo do tapete outra vez.

O país vive afundado no famoso jeitinho brasileiro e com o futebol não é diferente. No caso do feminino, não há projetos bem elaborados, muito menos planejamento. Vide o Campeonato Brasileiro, onde dez vagas são definidas por “peso de camisa do futebol masculino”, priorizando times que jogaram as Séries A e B via ranking da CBF. E a entidade não pretende mudar seu formato.

O esporte é tratado como amador. Falta profissionalismo, falta aos próprios dirigentes tratarem o tema com seriedade. Mas não só isso: falta a visibilidade. Falta aos jornalistas e à grande mídia no geral não tratarem a modalidade como assunto pequeno. Se assim seguir, o futebol feminino que tinha tudo para crescer no pós-Olimpíadas, pode ir pro buraco de vez.

Mesmo assim nossa luta continua, e está só começando. Porque acreditamos no futebol feminino. Porque essas mulheres que dedicam suas vidas ao esporte merecem visibilidade, investimento, valorização e tudo o mais que tanto exigimos. Seguindo nessa toada lançamos a campanha “#DáBolaPraElas”. E você, que chegou até aqui, clica no link e deixe sua assinatura. Vamos fazer barulho!

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Por Guadalupe Carniel

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