VOLTAR

21.03.2017

Postado por Raisa Rocha

Olhemos pra frente

Domingo o Grêmio jogou os seus piores minutos deste ano. O Veranópolis travou o time da casa, tocou a bola, acalmou o jogo, soube atacar e ser perigoso. Ao tricolor, nem o toque de bola, nem as individualidades.

Um time lento e distante. Quando as fugidas saíam, não se tornavam contra-ataques. Faltou muito o Miller Bolanõs em todos os lugares carimbando todas as jogadas. Luan de meia esteve só. Os volantes, inoperantes no ataque. Com as linhas desorganizadas e confusas, não havia recomposição rápida nem de qualidade.

O time acusou o desentrosamento e, se alguém se destacou, foi Renato, que entendeu o jogo e soube destravar na segunda etapa, atrás no placar. Colocou um canhoto, o Lincoln, e começou a chamar o jogo pela esquerda. Ramiro foi pra volância. Os pontas inverteram de posições fluindo mais. Luan solto fez um golaço, projeto de craque. Barrios transpirou bastante, foi pouco efetivo, dormiu e veio o Everton. Gastón Fernández estreou, somente. A tarde foi de experimentos pro Portaluppi e pro tricolor.

011 lucas uebel2

As mudanças são forçadas pelas circunstâncias, mas também são indícios da linha do trabalho do treinador a partir de agora. Ele quer, exigiu um centroavante. Ele deseja que o time consiga, e logo, se encontrar em campo com um cara lá na frente. Terá de esperar mais, Barrios ficará de fora no mínimo por dois jogos por lesão na coxa. Ou seja, menos repetição, mais mudanças no caminho.

Há a intenção e a necessidade de encontrar um Grêmio novo e é justo isso o que nos falta perceber. Chegou o momento inadiável de deixarmos 2016 no passado, é preciso respirar fundo, deixar a ficha cair e entender que aquele Grêmio que foi Campeão da Copa do Brasil, jogando daquela maneira, não vai mais acontecer.

O tapa na cara vem, essencialmente, pelas alterações no time base: venda (no caso do Wallace), lesões (no caso do Douglas, a situação mais grave) e pelas chegadas de outros jogadores, que inevitavelmente irão alterar as dinâmicas. E ainda Miller Bolaños, antes banco e hoje a figura mais destacada da temporada, titular incontestável.

Aquele Grêmio que encantou atingiu o seu ápice em dezembro. Começou a ser construído lá por maio de 2015 e chegou à taça. Hoje, ele acabou. Está no passado, faz parte da história do Rei de Copas, das nossas memórias recentes e tão afetivas… enxugadas as lágrimas, é preciso parar de relacionar cada jogo deste ano com 2016. É um equívoco coletivo: meu, teu, da torcida inteira, da mídia de cabo a rabo. E também do clube, seus jogadores e comissão, que iniciaram os trabalhos com este mesmo ideal, o que hoje nos impede de avançar.

011 lucas uebel3

Chega de “o time não consegue repetir o padrão de atuações de 2016”. E nem irá, as características do grupo estão em curso de mudanças. Renato não foi louco quando chegou e não será agora ao ponto de abdicar da posse de bola. Mas, por exemplo, cruzamos dezenas de bolas (inúteis) na área a cada partida, com ou sem a obrigação de buscar um placar. Outra questão é a quantidade de opções ofensivas no elenco, totalmente diferente do que era viver de Pedro Rocha e Everton.

É o momento de olhar pra frente, mirar o futuro, aquele Grêmio não irá se repetir (sim, mais lágrimas). Não é contradição afirmar que ainda estamos dentro de um projeto, de uma continuidade. Porém, vivemos hoje a fase dois dessa era; o período pós título, pós seca, pós Roger, pós consolidação. A identidade do time do Grêmio se transforma com óbvias dificuldades e tropeços, acertos e erros. Pouco mais de 6 meses após sua volta, agora é que temos o Grêmio do Renato, agora é que temos um Grêmio de 2017. Desfigurado, desentrosado, mas é o nosso Grêmio e é isso o que importa.

Olhar o presente de frente tornará mais fácil a nossa receptividade ao momento do tricolor, de (des)encaixe. Enquanto continuarmos em 2016 não conseguiremos aplaudir ou jogar junto desse time que vem se entregando e, com dificuldades, tentando se encontrar.

 

Fotos de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Ler mais da Raisa Rocha

Ler mais do Grêmio

Ler mais do Campeonato Gaúcho

A Bola que Pariu