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30.06.2017

Postado por Patrícia Muniz

Superação e surpresas positivas: a cara do Galo

Atlético Mineiro 1 x 0 Botafogo – Quartas de final Copa do Brasil 2017

No primeiro confronto das quartas de final da Copa do Brasil, o Galo largou na frente contra o Botafogo, apoiado por quase 20 mil torcedores presentes no Independência. O duelo contra o alvinegro carioca em mata-matas é sempre rodeado de muitas polêmicas, rivalidade e um histórico que não deixa saudades.

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É difícil não falar da arbitragem, ainda mais em um jogo de Copa do Brasil contra o Botafogo. As péssimas lembranças guardadas, em especial aquela há 10 anos, nos deixam com os ânimos a flor da pele antes mesmo do jogo começar. E, detrás do gol e mergulhada no sentimento do estádio, eu via o juiz empenhado em minar o jogo do Galo, mas é preciso admitir que no futebol, muitas vezes, a emoção supera a razão. É preciso admitir que, ao menos na expulsão de Fred, a arbitragem não pesou a mão. O nosso artilheiro foi infantil por chegar duro na marcação sabendo que já estava amarelado e não foi a primeira vez que esse tipo de postura dele nos prejudica.

A despeito da puerilidade de Fred, o time apresentou uma evolução fundamental em relação ao que a torcida vinha reclamando: empenho, dedicação e vontade de vencer. É fato que muito dessa evolução deve-se a titularidade do nosso menino maluquinho. Luan incendeia a partida e retoma essa vivacidade e raça do time, tem identidade com a massa e cobra dos demais essa sede de vitória. É de se comemorar como o time resistiu bravamente em campo, mesmo com um a menos, e chegou perto do segundo tento, apesar da intensa pressão e volume de jogo do Botafogo.

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No jogo de ontem, não foi apenas o time que surpreendeu positivamente, apesar de repetir erros grosseiros. Como de costume, a massa seguiu apoiando o time incessantemente e se enfurecendo a cada apito do juiz. Seja por uma questão de identidade ou simplesmente pela emoção, sempre que posso, eu vejo os jogos atrás do gol e, pela primeira vez, tive a oportunidade de hastear um bandeirão. Ao contrário do que esperam em uma sociedade patriarcal no ambiente futebolístico, fui muito bem instruída e apoiada quando tentei, ainda que sem jeito e ressabiada, apesar de entender bem que se trata de um espaço de concessão.

Muito se diz negativamente a respeito de torcedores organizados. É comum, inclusive por parte da esquerda e de feministas, caracterizar membros da maior torcida organizada do Atlético como marginais misóginos, homofóbicos, agressivos e selvagens, entre outros adjetivos pejorativos. Criamos a ideia de monstros como torcedores organizados, mas eles não são e precisamos debater sobre isso.

A experiência foi única em meio àqueles que, assim como eu, são subjugados pela sociedade pela sua condição de existência. Desde a forma como se deve pegar no mastro ao movimento que deveria fazer com a bandeira, tiveram paciência para me ensinar e não fui desmoralizada pelo meu gênero ou inexperiência. É atrás do gol que tenho encontrado minha morada e, apesar dos problemas estruturais, encontro mais receptividade entre os torcedores ali do que na maioria dos espaços que transito, inclusive dentro da universidade ou em setores do estádio ocupados pela alta classe belorizontina.

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Por outro lado, a violência verbal ainda é acobertada pelo discurso de rivalidade. Os dias que antecedem ao clássico contra o cruzeiro são, em geral, insuportáveis pela intensa misoginia e homofobia que permeiam as músicas e ofensas destinadas ao outro lado da lagoa. Infelizmente, a naturalização de certas formas de violência ainda é grande problema.

Quando as pessoas dizem que não gostam de futebol por ser um ambiente muito machista e alienante, eu imagino que elas vivam em um ambiente familiar, escolar, de trabalho e lazer livre de opressões. Sabemos que isso não é verdade e precisamos entender que o futebol não é uma esfera alheia da sociedade, portanto, trata-se de um espaço machista, porque está inserido em uma sociedade machista.

Não ouço panelas, por exemplo, quando são feitas denuncias contra homens brancos de influência na torcida, mas muito escuto quando um torcedor organizado atinge a propriedade de um jogador. Portanto, para um futebol livre de opressões, todos nós precisamos repensar e desconstruir posturas e prioridades, não apenas o sempre distante “outro”. Até porque, aparentemente, o outro tem aprendido muito bem.

Ontem, time e torcida surpreenderam em campo e nas arquibancadas e, mesmo sabendo que ainda há um longo caminho pela frente, estou confiante.

Fotos: Bruno Cantini/Atlético

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