VOLTAR

13.06.2017

Postado por Raisa Rocha

Pioneiras, as Mulheres de Arquibancada fazem história!

Sem outro precedente histórico, arrisco a dizer que a nível mundial, as mulheres brasileiras fincaram sua bandeira no coração do futebol no I Encontro Nacional de Mulheres de Arquibancada.

museu4

O palco foi o Museu do Futebol, alocado no estádio Municipal do Pacaembu, em São Paulo. De costumeira programação flertando com o ambiente acadêmico, o Museu também teve seus paradigmas balançados com a ocupação de seus espaços pela energia das arquibancadas em luta.

Aproximadamente 300 mulheres estiveram presentes, vindas de 11 estados nacionais em mais de 50 representatividades (entre torcedoras, torcidas organizadas, coletivos, movimentos e mídias). Diversidade e representatividade poderiam definir e resumir o Encontro, dado o universo imenso de sotaques, cores, ideias, sorrisos, instintos, esperanças, experiências, inteligências, times, torcidas e vidas tão diferentes que lá estiveram. Desde cedo chegavam em grupos, em bandos, uniformizadas, lindas, de peito aberto, refletidas pelo sol forte de um sábado frio.

IMG-20170612-WA0068

Os olhares e questionamentos curiosos de quem passeava pelo local eram respondidos com o orgulho de quem por tanto tempo guardou tanto a dizer e que neste 10 de junho de 2017 estaria vivendo e escrevendo a história.

Durante parte da manhã e pela tarde as Mulheres de Arquibancada trocaram relatos de suas vivências. O intuito do encontro era promover a divulgação e o cruzamento das realidades distintas no país, assim como, ao final, destacar as pautas recorrentes e encaminhar ações futuras.

E se engana quem imagina que só de agruras vivemos, não mesmo! Muitas foram as histórias de mulheres em posições de liderança, respeitadas e livres para viverem suas paixões e contribuírem com suas capacidades. Destaco aqui a importância desses casos, principalmente para quem AINDA hoje se atreve a proferir que futebol não é coisa de mulher. Há sim realidades de respeito e igualdade, mesmo que muitos torcedores e torcidas organizadas mantenham seus preconceitos e proibições (como, por exemplo, os clássicos vetos de torcidas organizadas às viagens para jogos e demais atos comuns como tocar instrumentos, bandeirar ou participar das tomadas de decisões e compor cargos diretivos).

museu3

E, como deveria de ser, homens também marcaram presença no evento. Em minoria, obviamente, mas cumprindo um importante papel na luta pela desconstrução de valores antiquados. A Anatorg (Associação Nacional de Torcidas Organizadas) completou a programação compondo uma mesa com seus representantes, todos líderes de torcida e todos homens, claro. O debate começou acalorado, não por menos, afinal, talvez por se sentirem intimidados, iniciaram suas falas insistindo no fato de mulheres também praticarem atos machistas.

PAUSA

Amigos, nós sabemos, sabemos e falamos disso diariamente e também no nosso Encontro. Sim, reproduzimos preconceitos e por muitas vezes somos hostis às mulheres que recém chegam nos ambientes das torcidas, mas não venham vocês em NOSSO evento tentar inverter a realidade e usar nosso discurso CONTRA nós! Também houve tempo para pérolas como “assédio com respeito”… que já foi devidamente retratada pelo interlocutor como um equívoco de expressão. Que conste, homens e mulheres, todos nascemos em um país alicerçado em moldes escravagistas, patriarcais e de extorsão. Sendo assim, obviamente que carregamos no DNA uma enxurrada de (pré) conceitos a serem desconstruídos, o que, aliás, era justamente o motivo deste encontro.

Dito isso, superada a tensão inicial e vencidas as provocações mútuas, os ânimos foram acalmados e o debate seguiu seu fluxo para um desfecho colaborativo. A presença da Associação no evento foi muito importante e não se poderia pensar num outro cenário que não esse, com homens amigos, esposos e irmãos presentes e ao lado na luta. Admirados pela grandiosidade do que presenciaram, também exalava no ar um certo “temor” dos líderes por verem de tão perto o tamanho e o significado do “empoderamento” materializado.

Ao que parece, a partir de agora as mulheres passarão a ter espaço também neste núcleo tão necessário à manutenção dos direitos do torcedor que é a Anatorg. Estaremos de olho!

IMG-20170610-WA0140

Demarcamos território, a bandeira está fincada. Escrevemos a história e fomos as pioneiras neste tipo de ação. Caiu por terra, e que seja de uma vez por todas, a insinuação de que futebol e mulher não combinam na mesma sentença. Este I Encontro Nacional de Mulheres de Arquibancada é a prova que não deveria ser necessária de que existimos, e mais ainda, de que somos muitas, milhares. E não vamos arredar pé, a arquibancada é de todos e todas que quiserem.

Aliás, não é retórica a afirmação de que fizemos história. Para garantir, está tudo registrado aqui:

Como sabem, este e todos os outros textos deste site são feitos por mulheres. No caso de hoje, além, uma mulher que lá esteve presente e que integrou a equipe de colaboração do evento. Sendo assim, me permiti o tom emotivo neste relato. O que vivemos foi grandioso e difícil de definir.

E aqui, o registro final de agradecimento às organizadoras, que desde março trabalharam diariamente na organização do Encontro. Nada fácil lidar com tantas mulheres fortes ao mesmo tempo! Obrigada a todas presentes e parabéns especial à Dadá Ganam, Penélope Toledo, Kiti Abreu e Naty Moreira. Um salve também à pesquisadora Aira Bonfim e ao Museu do Futebol. Um muito obrigada às torcidas organizadas que apoiaram e viabilizaram a presença de suas mulheres. E um abraço caloroso em cada uma das Mulheres de Arquibancada que deixaram suas rotinas, famílias e compromissos para viverem este dia tão especial. Rivais sim, inimigas nunca. Tamo juntas, manas!

FB_IMG_1497205050313

Maurício Rodrigues

IMG-20170611-WA0154

Monique Torquetti

00x encontro de mulheres4

 

Ler mais da Raisa Rocha

A Bola que Pariu