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30.08.2017

Postado por Raisa Rocha

Voa, Pedro Rocha, voa!

Em mais um capítulo dessas reviravoltas clássicas do jogo que é mais que um jogo, tivemos hoje o episódio esperado, já nos minutos finais da tal janela de transferências. Finalmente o Grêmio terá um de seus jogadores envolvido em negociação nesse 2017, coisa que a diretoria jamais escondeu ser seu desejo e necessidade, por vezes beirando o constrangimento aos microfones. O desespero que devia estar tirando o sono dos homens de terno agora é respiro aliviado. Por US$ 12 milhões (R$ 45 milhões) lá se vai o guri, em contrato de 5 anos com o Spartak Moscou. E, ora vejam só, não estamos falando de Luan. Foi ele, o guri das Copas do Grêmio, o exterminador do Mineirão, o Peter Rock que nunca ninguém criticou. Se vai o PR32.

Itamar Aguiar/AFP

Itamar Aguiar/AFP

Clubes precisam de conquistas e de história. Clubes são empresas (por mais que isso doa) e empresas precisam ter lucros. E a venda de Pedro Rocha, necessária ao Grêmio empresa, garante ao Grêmio clube de futebol que possa seguir o seu caminho planejado em busca de novos títulos e glórias.

O tal “caminho planejado” já sabemos de cor: ano após ano a manutenção dos pilares do time titular, com boa parte desse time e elenco composto de guris criados no Grêmio. Guris que, se tiverem sucesso no campo, em curto ou médio prazo serão protagonistas em negociações. Guris como nosso Pedro Rocha, Pedrinho, menino lindo, meu guri.

E sim, apesar de seus breves 22 anos, ele JÁ é a história do Grêmio. De marcador de lateral à desperdiçador de gols, o guri foi se redimindo dos deboches e cornetas a cada gol, a cada assistência decisiva. Chamado de burro, chegou ao ápice ao nos dar a taça da Copa do Brasil de 2016 já no jogo de ida, metendo duas buchas naquela noite que terminaria em 1×3 pro Grêmio em pleno Mineirão, contra o Atlético Mineiro, pela glória, pelos pés de Pedro Rocha, 15 anos depois.

Thomas Santos/AGIF/Estadão Conteúdo

Thomas Santos/AGIF/Estadão Conteúdo

Manoel Petry

Manoel Petry

O seu primeiro clube grande foi o Juventus, tradicional da cidade de São Paulo, localizado no também tradicional bairro da Mooca, onde em 2012 o moleque acertou 18 gols no Campeonato Paulista Sub-20. Dali, direto para o grandioso e imortal Grêmio FBPA, por empréstimo.

Em 2013 e 2014 brilhou na base até ser integrado ao elenco principal, em 2015. Sob o comando de Felipão, marcou gols no Gauchão daquele ano e foi com a chegada de Roger, em maio, que o guri começou a demarcar território. Depois de anos sem revelar bons jogadores do meio pra frente e com péssimas recordações a respeito, Pedro Rocha se destacava e no mesmo 2015 já teve seu passe adquirido em definitivo pelo clube. E Roger também via que ali surgia um espetacular jogador de futebol. Lhe deu a formação tática necessária e o ensinou a ser peça fundamental da engrenagem de um time. Com a confiança da comissão, por algum tempo revezou com Everton, mas pela insistência e pela sua qualidade, tomou de assalto a vaga do lado esquerdo de ataque do Grêmio.

De espetacular senso de posicionamento, espírito de atacante, foram poucos os jogos onde Pedro Rocha não saiu ao menos uma vez na cara do gol. Mas lhe faltava algo. E foi Renato quem lhe ensinou. Com o Homem Gol buzinando no ouvido, Pedro Rocha foi pouco a pouco adquirindo tesão pelo gol (se é que esse tipo de coisa pode ser aprendida).

De lá pra cá, renovações contratuais e reconhecimento via aumento salarial. A última, a mais demorada, foi concretizada em março desse ano, após meses de conversas.

“Tu já viu como ele dribla?” “Todo o talento dele foi pros dribles!”. “Olha esse Pedro Rocha!”. “Eu não admito que tu fale mal do Pedro Rocha”. “Não sejam ingratos”. São exemplos de algumas frases que repeti sem medo de ser feliz nesses tempos em que estivemos juntos.

Driblador como poucos, sem qualquer receio em encarar zagueiros, habilidoso, promissor, talvez merecesse uma liga mais notória mundialmente e compatível ao seu grande talento. Mas o destino aos deuses do futebol e aos cartolas pertence e será na fria Rússia, da Copa do Mundo e de Moscou, que ele seguirá entortando zagueiros.

Agência Estado

Agência Estado

Às vésperas da abertura da janela eu perguntava aos gremistas qual saída traria mais prejuízos ao time: Ramiro, Luan ou Pedro Rocha? A pergunta capciosa dividiu opiniões, passando longe de um consenso. O que sabíamos é que ao menos um deles sairia. Que nenhuma revelação brusca ocorra até a meia noite de amanhã, dia 31 de agosto, quando encerra-se a maior janela estrangeira.

Enquanto isso, Luan deve permanecer no Grêmio. De que maneira lidará com a frustração das expectativas por ida à Europa? Ademais, ainda é pauta que perturba os gremistas a renovação de seu contrato antes que seja tarde, antes que se vá sem retorno financeiro ao clube. Mas Luan é outro que JÁ é o Grêmio e tudo deve se encaminhar da melhor forma.

E se no aspecto financeiro o tricolor cumpriu com sua meta anual, quem substituirá Pedro Rocha em campo? O melhor jogador do Grêmio em 2017 pode ser Geromel, pode ser Arthur, pode ser Luan, pode ser o Pedro Rocha. Que andava até esnobando com a 9 às costas na Copa Libertadores da América.

O PR32 conseguiu sua redenção. Do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, de Vila Velha a Porto Alegre. De Porto Alegre para Moscou. Seu Jessé, agora é hora de aprender o alfabeto Russo. Muito obrigada, Pedro Rocha, por tudo. Por cada arrancada, cada gota de suor, cada gol, cada golaço, cada passe consciente. Nunca vista o vermelho, tu és nossa história. Obrigada mais uma vez, destrua todos eles. Um dia voltaremos a nos ver.

Manoel Petry

Manoel Petry

 

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