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20.03.2018

Postado por Patrícia Muniz

A sangue frio

Atlético 1 x 0 URT – Quartas de final do Campeonato Mineiro 2018

Quando o juiz apitou o fim do jogo entre Atlético e Figueirense, na última quarta-feira (14), a angústia já havia tomado conta do meu peito. Não, não foram aquelas penalidades que o Victor defenderia, logo em seguida, que deixaram meu coração completamente desmantelado. Apesar de todo o sufoco, eu ainda tinha confiança naquele que nunca nos falta, o santo do Horto. Tampouco o desempenho do meu time, em casa, muito abaixo do esperado, foi o que me deixou desesperançosa do futuro. Eu estava tomada pela tristeza diante da execução de uma mulher de luta. Uma mulher negra cria do complexo da Maré friamente assassinada por ousar se levantar contra um sistema corrompido pelos interesses econômicos de poucos, pela violência de uma polícia militarizada, pelo racismo institucional.

Foto de Ninja

Foto de Ninja

Fomos derrotados em casa, mas, após as duas defesas do Victor na decisão por pênaltis, nós avançamos para a próxima fase da Copa do Brasil. Resultado que não mudou em nada o profundo dissabor. Marielle Franco era a relatora de uma comissão da Câmara do Rio que fiscaliza a intervenção militar e denunciava, frequentemente, a violência classista e racista cometida pelas instituições do Estado. Ela foi morta por lutar pelos seus iguais, por defender os direitos humanos para TODOS os humanos, sejam aqueles que estão na margem dessa sociedade tão desigual ou aqueles policiais subalternos que, fardados, sofriam abusos, assédio moral e sexual, e que também morrem à frente dessa guerra que apenas nos trará sangue derramado em vão. Foram quatro tiros certeiros na cabeça da jovem vereadora do Rio de Janeiro e outros cinco, que acabaram matando também o motorista, Anderson Gomes. Como não se chocar e ficar com um absoluto medo do que está por vir?

A classificação sofrida diante do Figueirense claramente desanimou a massa atleticana para o confronto contra o URT, pelas quartas de final do Campeonato Mineiro. Mesmo com os ingressos custando apenas 10 reais para o sócio torcedor, o público no estádio Independência estava modesto, contando menos de 12 mil pagantes. De toda forma, quem compareceu não poupou a garganta, empurrou o time e pôde soltar o grito após o forte chute de Fábio Santos encontrar as redes.

Foto de Araceli Souza

Foto de Araceli Souza

Conquistamos a classificação, mas a dominação do meio para a frente nesse jogo deu ao time uma falsa segurança defensiva. Quando perdíamos a bola em velocidade, sofríamos alguns sustos e tomávamos pressão que, felizmente, paravam na limitação técnica do adversário, nas defesas de São Victor ou até mesmo na trave. Ainda assim, o volante Adilson voltou a fazer uma boa partida, jogou com raça e agradou bastante a torcida atleticana.

Como titular, Cazares deixou a desejar. O equatoriano ainda não chamou para si a responsabilidade de criação no meio-campo e nossas grandes oportunidades, no primeiro tempo, vieram muito pelo alto. Foi pelos pés do nosso lateral esquerdo que conseguimos marcar. Fábio Santos aproveitou rebote com uma pancada, finalizou cruzado e, no desvio do zagueiro da URT, a bola foi parar no fundo do gol.

Foto de Bruno Cantini

Foto de Bruno Cantini

O sangue alvinegro certamente corre nas veias do pequeno Luan. Nosso menino maluquinho não para em campo, carrega uma energia apaixonante e não mede esforços para ver a equipe avançando. Tamanha sua dedicação e entrega em jogo, ele parece incansável, mas depois de tantos problemas físicos desgastantes, ainda guardamos uma preocupação com o seu condicionamento. A torcida é para que ele não passe dos limites e não tenha desgastes e lesões, pois a sua titularidade é absoluta.

O primeiro jogo da semi-final será na quinta-feira, em casa, contra o América, mas o grande desafio será sobreviver sem se curvar ao caos desse pais de covardes.

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