Atlético Mineiro, Campeonato Mineiro
04.03.2018
Postado por Patrícia Muniz
Atlético 0 x 1 Cruzeiro – R09 Campeonato Mineiro 2018
Não consigo compreender quem teve a péssima ideia de realizar jogos às 11 horas da manhã, ainda mais no verão, em partidas de alta intensidade, que exigem ainda mais dos atletas. O horário é ruim para ambos os times, extremamente desgastante e prejudicial para a manutenção do condicionamento físico do atleta, que está enfrentando uma rotina de jogos a cada três ou quatro dias. E não cabe aqui atribuir alguma culpa pela derrota. O resultado do jogo se construiu na incapacidade do Galo de se impor e criar ofensivamente, mesmo com um jogador a mais durante quase todo o segundo tempo.
Durante a primeira etapa, as equipes estavam cautelosas para tomar a frente, mas o time atleticano já demonstrava dificuldade de romper a marcação alta do rival, que foi quem propôs o jogo. Otero era a grande esperança de gols e assistências e, de fato, esforço não faltou. Mas algumas limitações são decisivas em jogos importantes. Sofremos com a pressão do cruzeiro, mas conseguimos ir para o vestiário sem sofrer gols e isso pareceu suficiente em alguns momentos. As melhores chances foram apenas na bola parada.
Mal começou o segundo tempo e já estávamos atrás no placar. Logo nos primeiros minutos, um descuido fatal da defesa do Atlético deixou Raniel livre para decidir e fazer o único gol da partida. No lance, Rafinha recebeu no meio, a marcação demorou a chegar e ele viu Raniel passar com tranquilidade para receber a bola, nas costas do Leonardo Silva. O Galo quase devolveu com a mesma moeda, mas Fábio fez grande defesa diante da finalização do Erik.
Na sequência, Otero deixou Edílson para trás e o lateral cruzeirense tentou pará-lo com falta, mas foi expulso após levar o segundo cartão amarelo. Estádio lotado, a massa atleticana empurrando o time, mesmo com o cansaço causado pelo calor. E ainda tínhamos um jogador a mais para ajudar a avançar o time. Nós precisávamos ir para cima, impor o jogo, e as condições eram favoráveis. Cazares e Luan entraram para tentar incendiar o jogo, mas, dessa vez, as substituições de Thiago Larghi não surtiram efeito.
Aumentamos o volume de jogo, tentamos criar, tivemos o dobro de finalizações e até carimbamos o travessão no último minuto, com cabeçada do capitão Leonardo Silva. Porém, ao final, não conseguimos aproveitar a vantagem numérica para penetrar com eficiência a defesa cruzeirense, pesando a ausência de um jogador de criação no meio. O resultado frustrante, porém, não apagou o golaço marcado pela diretoria nesta semana do Dia Internacional da Mulher.
Depois de inúmeras derrotas sofridas no marketing social, finalmente, o Galo entendeu a importância de seu papel histórico na formação das pessoas dentro dessa sociedade e dessa torcida tão heterogênea. A maior vitória nós já conquistamos: #NãoSeCale é uma campanha de combate a violência contra a mulher lançada pelo Atlético, em parceria com o Instituto Maria da Penha e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Líder de movimentos em defesa dos direitos da Mulher e vítima emblemática da violência doméstica, Maria da Penha Maia Fernandes esteve presente no estádio Independência e entrou em campo com o elenco. Os jogadores utilizaram na camisa o número 180, do disque-denúncia e Leonardo Silva, inclusive, utilizou a camisa 180.
Para quem acredita que esta é apenas uma estratégia de marketing adotada pela diretoria, após o cruzeiro divulgar a campanha “quebre o silêncio”, eu digo que esta é uma conquista de todas as atleticanas de luta que, há muito, manifestam suas insatisfações com as posturas adotadas pelo clube e eventos promovidos.
Essa não é a primeira ação social importante que o rival realiza e ano passado eles entraram em campo, pela Copa do Brasil, carregando nas costas estatísticas que mostram a violência contra as mulheres. Vergonhosamente, o Galo limitou-se a distribuir flores para as mulheres que foram assistir ao jogo nos setores mais caros do estádio Independência. Agora, o Dia Internacional da Mulher foi reconhecido pelo clube como um dia de luta e resistência, portanto flores já não são suficientes para o 8 de março atleticano.
É importante que o clube dê esse passo a frente, inclusive para mostrar para uma grande parcela da torcida que precisamos mudar e evoluir. Muitos insistem em bradar cânticos misóginos e homofóbicos, chegando ao cúmulo de se colocarem contrários à campanha “não se cale” e reclamando nas redes sociais do Galo. E, sinceramente, as tentativas absurdas de piadas com a situação da Maria da Penha deixam claro de qual lado dessa história eu quero estar. A luta das mulheres jamais será em vão. E nós seguiremos ocupando e resistindo até que todas sejam livres, inclusive para torcer.
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