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16.08.2016

Postado por Raisa Rocha

Desculpa, meninas

Brasil 0 (3)x(4) 0 Suécia – Semifinal Futebol Feminino Olimpíadas Rio 2016

Andressa Alves pediu desculpas por não terem conseguido chegar ao Ouro. Lindas, eu é que peço desculpas, nós todos pedimos desculpas a vocês. Nós, que jamais vimos seus rostos ou sabíamos seus nomes até dez dias atrás. Nós, homens e mulheres, que só lembramos de vocês a cada anos, que corroboramos com o descaso ao futebol feminino. Desculpem-nos, meninas.

Meu choro após esse jogo é de tristeza e também de culpa. E de vergonha. Aquela bola que cai na perna ruim e vocês não conseguem concluir com qualidade, claramente por falta de treino, é nossa culpa. Sim, nós que compramos camisetas oficiais dos nossos times por R$ 300, mas não pagamos R$ 15 pra assistir uma partida do futebol feminino, nas raras vezes em que ela acontece por aqui.

Vanderlei Almeida/AFP

Vanderlei Almeida/AFP

O futebol amador masculino no Brasil tem federação, liga e patrocinadores. Toda a euforia, o clima de festa, o instantâneo orgulho pelo futebol feminino irá tão fácil quanto falso ele é. E é essa a verdade que pesa em cada jogadora, que sabia que vivia um momento único e que o sonho seria curto e exigiria esforços extraordinários. Transformar esse delírio em fato histórico é muito mais do que uma medalha, eu me refiro a uma mínima e rastejante maior visibilidade às mulheres no futebol.

Ainda há jogo, a medalha de Bronze pode ser delas. Mas a dor latente que essa derrota trás pra quem está deslocada no país do futebol é inevitável.

Vanderlei Almeida/AFP

Vanderlei Almeida/AFP

Sobre o jogo, a Suécia fez o que lhe cabia, por mais que eu ache vil sua estratégia de colocar 9 jogadoras em duas linhas de defesa.

Marta não está no seu auge, fato. Mas o talento não envelhece, ela jamais foge da luta e sua dor ao final do jogo reverberou em cada célula minha. Rainha, tu és um marco na vida das mulheres que amam futebol. Tu és a maior, a melhor, única.

Formiga, Formiga, Formiga! Jogou com a faca nos dentes, esbanjou categoria e conhece todos os atalhos do jogo. Arma, defende, desarma como ninguém, é a raça em pessoa, o espírito da luta feminina. Mais que o cérebro, foi o coração do time. Obrigada por tudo.

Bárbara, a Santa Bárbara, fez o que pôde e ainda teve que aguentar machista racista falando groselha.

Cristiane fez falta, muita falta. Mas Andressa Alves é pra mim um dos melhores talentos dessa geração. Leve, dribladora, com boa visão de jogo, de bom chute e habilidosa com a bola no pé certamente fará gols que marcarão história.

Eu poderia falar de cada uma das guerreiras, mas fico entre as mais experientes, as que provavelmente não terão outra Olimpíada pra tentar um Ouro pra modalidade. Foram elas que viveram na pele a ‘transição’ e a ‘melhora’ que o futebol feminino sofreu na últimas décadas e merecem todas as honras e o nosso respeito.

Falando em futuro. É preciso um aprimoramento tático nessa Seleção Feminina. Tudo bem que não é fácil furar um ferrolho que coloca todas as jogadoras atrás da linha da bola por 90 minutos. Mas faltou alternativa, faltou inteligência coletiva pra encontrar os espaços. Em 240 minutos não marcamos nenhum gol e não é por falta de capacidade técnica das jogadoras.

A vida segue, a dor também. O esporte nos coloca de fronte às verdades da vida e já em três dias elas precisam juntar os cacos e voltar a campo. Serão ovacionadas, serão abraçadas na Arena Corinthians. Que venha o Bronze, pro futebol feminino ele terá peso de Ouro, de Diamante. Meninas, desculpem mais uma vez. E obrigada por tudo. Vocês são guerreiras, são campeãs, são fodas!

 

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