07.09.2016
Postado por Raisa Rocha
Brasil 2×1 Colômbia – Eliminatórias da Copa do Mundo Rússia 2018
Esta imagem com Tite gesticulando em meio a uma roda de jogadores de semblante atento, ávido, me chamou a atenção esta semana. Não gosto de determinados termos, mas “o respeito voltou”. Que me desculpe Felipão, a quem serei eternamente grata e que indiscutivelmente está na história do futebol mundial. Dunga sequer mereceria ser citado. Mas o que faltava na Seleção Brasileira de Futebol era um técnico de verdade.
É complicado corroborar com algo que criticamos tanto como é a avaliação do trabalho por resultados. Pior ainda é, de certa forma, ser a favor da tão questionada mania de trocar técnicos. Mas o Brasil ganhou seus dois jogos e, para além dos resultados, se viu um time de futebol em campo. Bons jogadores e talento não nos faltam, o problema não era da “geração” e sim de sua gestão. O fato é que se até o treinador disse se surpreender com o desempenho melhor do que o esperado, o que diremos nós, torcedores?
Tudo começa pela repetição, pela primeira vez nas Eliminatórias o Brasil repetiu uma escalação. Tite já parece ter o time na mão, “fechado”, como gostamos de dizer. Algumas bolas ainda são muito longas ou erramos na decisão em determinadas jogadas. A estratégia pautada no toque de bola ocasiona erros na saída de jogo, mas o trabalho existe, já mostra resultados e os ajustes necessários virão com as próximas partidas.
Respeitando as tradições o time começou pra cima, com Neymar cavando escanteio antes do primeiro minuto e abrindo o placar na bola parada com Miranda, efeito direito do trabalho nesse pequeno período de treinamentos. E ainda há muito a se crescer nesse tipo de jogada. Foi de bola parada também o gol de empate, talvez a única possibilidade de a Colômbia marcar. A equipe é comandada por José Pékerman há 4 anos e sempre é um adversário difícil. Bem organizada, forte, habilidosa e com o craque James Rodríguez de figura central foi um adversário duro, um bom teste pra esse recomeço brasileiro, mas que pouco forçou no ataque e sairia satisfeito de Manaus com um empate.
Falar em compactação pode irritar algumas pessoas. O termo que começa a virar chavão é o que define o futebol de hoje e os conceitos de proximidade das linhas, ocupação de espaços e zonas de campo são guias de Tite já há alguns bons anos. Foi-se o tempo em que o Brasil tinha sua “escola de futebol” e a modernização do nosso estilo é urgente. Com essa organização coletiva surge um ambiente favorável para as individualidades de cada jogador, vistas há muito nos seus clubes e que por longos anos ficaram longe da Seleção. E que toque de bola! Parece ser o fim do castigo de selecionados perdidos em campo, sem a menor criatividade coletiva e sem saberem o que fazer com a bola.
A postura ofensiva se manteve no segundo tempo, com 1×1 no placar. Pelo lado da Colômbia, extrema dedicação em nos fechar os espaços e baixar o ritmo da partida. O gol demorou a sair por méritos desse bloqueio adversário e foi interessante ver a tranqüilidade canarinho pra levar o jogo e buscar a vitória. Neymar e Jesus se movimentando bastante, principalmente o camisa 10, abrindo espaços para os meias surgirem como definidores das jogadas. Nesse quesito, destaque pra Renato Augusto, em grande fase com a camisa da Seleção Brasileira e para Philippe Coutinho, forte arma nesse banco de reservas e que começa a botar calor no Willian. A mecânica das trocas de funções em campo ainda está longe da perfeição, mas os convocados de Tite já fazem isso nos seus clubes e, sinceramente, em tão pouco tempo a ideia ser absorvida dessa forma é admirável.
Pra fechar, parece que finalmente surgiu o homem pra colocar o Neymar no seu lugar. Ele apanhou, bastante, mas ainda precisa parar de dar chilique, provocar torcida, colocar dedinho no ouvido e, sinceramente, apenas pare com essa coisa de “eu sou fod*, eu mando nessa porr*”. Me poupe. Se tem um cara pra meter isso na cabeça dele, esse cara é o Tite. Dentro de campo, pela esquerda ao lado de Marcelo, o guri vem fazendo coisas com a camisa amarela que ainda não haviam sido vistas. E não só isso, marca, volta, joga com garra. É o homem das bolas paradas com justiça e ganhou toda a liberdade pra ser a liderança técnica sem as sobrecargas de uma braçadeira de capitão que não lhe cabe. Agora está na posição certa e a organização do time favorece o craque, que não joga sozinho e começa a se destacar como o Neymar Jr. deveria de ser.
Daqui há exatamente um mês, no dia 7 de outubro, na Arena das Dunas tem Brasil x Bolívia. No dia 11, Venezuela x Brasil. Até lá o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil seguem e a temporada européia já vai estar engatada. Que siga o jogo.