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, Futebol Feminino

12.11.2016

Postado por Raisa Rocha

Expectativas x Realidade

Muito tem se falado de futebol feminino no Brasil – e disso nós gostamos! A modalidade nunca esteve só, mas foi após o furor Olímpico que pipocaram entusiastas e novos fãs. Eventos diversos trouxeram a realidade à tona por um sem fim de coletivos e campanhas virtuais clamando por atenção às meninas. Aliás, falando nisso, já conhecem a nossa campanha #DáBolaPraElas?

DáBolaPraElas_FINAL - Cópia

Em setembro a Conmebol determinou a obrigatoriedade de um time feminino no clube que desejar disputar a Libertadores masculina a partir de 2018. Em outubro, a final da Copa do Brasil teve interessante repercussão na grande mídia se comparada à ínfima cobertura usual. E nos últimos dias foram anunciadas pela CBF mudanças significativas: novo Campeonato Brasileiro com (finalmente) investimos relevantes da Confederação e aquilo que pedíamos há tanto tempo com tanto fervor: MULHERES no comando! São elas as ex-jogadoras Daniela Alves (auxiliar da seleção Sub-20) e Emily Lima, a PRIMEIRA mulher a treinar uma seleção (nas categorias de base) e que agora será nada menos que a técnica da Seleção principal.

Pois é amigos… muitas coisas. E amanhã, domingo dia 13, essa “nova era” do futebol feminino estreará na Copa do Mundo Sub-20 de Futebol Feminino, com Daniela Alves na comissão e futuras craques em campo.

CBF

CBF

O que queremos e desejamos é que essas meninas representem. Afinal, elas são a nova geração, são elas quem substituirão figuras como Formiga, Cristiane e Marta (só pra citar as principais) nos próximos anos. Pouca responsabilidade, né?

O fato é que estamos cansados de repetir que “futebol é continuidade”. E no feminino mais ainda, visto que a modalidade sofre de um atraso tremendo provocado pelos 40 anos de proibição da prática, à época da nossa primeira ditadura.

O que quero dizer com isso é que estejamos preparados pra uma possível frustração. Não porque nossas meninas não tenham qualidade, pelo contrário. Mas porque conceitos mais modernos ainda não fazem parte da realidade e ainda estamos muito presos à qualidade individual das jogadoras num coletivo capenga. Não será de uma hora pra outra que tudo vai mudar.

Aliás, bom lembrar que há menos de um mês ocorreu a Copa do Mundo Sub-17, onde fizemos uma campanha quase fiasquenta sem nenhum padrão tático, pouca organização, sem falar do fator psicológico, visivelmente não trabalhado.

Não é por menos, ora bolas, categorias de base e futebol feminino são duas coisas que – ainda – não convergem. Daí que volto a dizer que devemos acompanhar e torcer, prontos para o que der e vier.

CBF

O Mundial acontecerá na Papua-Nova Guiné e terá transmissão em canais fechados e abertos. Estarão todos de olho e nós temos que ter os nossos ainda mais abertos para não cairmos no discurso cansativo de que futebol feminino é chato, ruim e etc. É sim bastante provável que a qualidade do jogo ainda esteja aquém daquilo que desejamos (como foi o Brasil das Olimpíadas, visivelmente mal treinado pela comissão antiga – que passem bem, bem longe).

Dado o recado, é hora de torcer, estar com elas e bombar esse tal de ibope. O Futebol Feminino começa a ter a visibilidade sonhada. Mas o passado de descasos e abandonos cobrará seu preço e mostrará sua face. Estejamos jogando junto, apoiando, fiscalizando os novos passos que serão dados. Uma nova era começa, mas contrariando a lógica, muitas coisas serão iniciadas do zero.

Proponho um desafio ao torcedor brasileiro, que mais gosta de vencer do que do futebol, propriamente dito: que torçamos não por medalhas ou títulos. Que dessa vez torçamos pelo futebol, o feminino. Antes das vitórias, e não quero que elas não venham, é pela dignidade de condições para as mulheres que jogam.

Não devemos nos empolgar em demasia, comemorar sem abandonar a retaguarda. Não é hora de se iludir, ainda não. Aqui é o país do futebol, bola no pé elas têm e se depender de nós, torcida e apoio também.

Lucas figueiredo/CBF

Lucas figueiredo/CBF

A Bola que Pariu