Quem se importa?

Portuguesa 0x3 Santos – 2ª rodada Campeonato Paulista Feminino 2017

Hoje, domingo de Páscoa, semifinais do Paulistinha entre Ponte Preta e Palmeiras, São Paulo e Corinthians, houve quem disse que não teria jogo do Santos, porém se enganou. O time santista feminino está disputando o Campeonato Paulista e jogou contra a Portuguesa. Todavia, não é sobre este engano que tratarei agora, até porque, isto é piada pronta da torcida adversária.

Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Na conta oficial do Santos no Twitter constavam as seguintes informações: #Sereias hoje, às 16h, no Canindé. O site oficial trazia as mesmas informações, porém, o horário seria às 15h. Questionei a conta da rede social quanto ao horário e em alguns minutos fizeram a errata no post, alterando para às 15h. Com as informações postas, #partiucanindé.

CT Rei Pelé em 09/04/17 – Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

E então, começou a tormenta. Quando vamos aos jogos, devido à desorganização própria do futebol brasileiro, há diversas ações e cuidados aos quais devemos nos atentar. Em primeiro, os estádios brasileiros, tirando as “Arenas”, não contam com estacionamento. Os do Estádio do Canindé são para os sócios do clube e para os restaurantes do entorno. Com isso, parei o carro num shopping próximo. Também não fui com a camisa do Santos, haja vista que por ser torcida única a partida entre São Paulo e Corinthians, imaginei que poderiam transmitir na quadra da Gaviões, que é muito próxima ao Canindé. Infelizmente, é preciso tomar este tipo de cautela, ainda mais que eu estava sozinha. Parei na padaria que utiliza o espaço do estádio, já que também não contam com opções de alimentação adequadas.

Com um sol de rachar, segui de bilheteria em bilheteria para tentar entrar no jogo; todas fechadas, portões cerrados. Comecei a ficar em dúvidas sobre o local da partida. Dei a volta toda no estádio e ao chegar no clube, perguntei a um segurança quanto ao jogo. Este, informou-me que hoje haveria jogo do time principal da Portuguesa, mas que fora adiado para segunda-feira. Na Rádio Santos F.C., pasmem, estavam repetindo a transmissão de Santos x Linense (primeira partida do Campeonato Paulista, masculino).

Entrei no Twitter novamente e um post: “Começa o jogo das Sereias”. Diga-se de passagem, a foto postada não era do jogo e sim uma antiga. Então twittei: “afinal, onde é este jogo? Estou no Canindé e tudo fechado”. O perfil @SereiasVila respondeu que “o jogo é no Centro Treinamentos da Portuguesa, no Parque Ecológico”. Oi? Há uma diferença enorme entre Canindé e CT da Portuguesa, exatos 16,9 km. O Santos e sua assessoria erraram feio com a divulgação. Descasquei o abacaxi e respondi que era falta de respeito com xs torcedorxs e com as jogadoras. O tuíte com as informações equivocadas fora apagado e foi feito um pedido público de desculpas pelo Twitter Oficial do Santos.

Cheguei ao CT da Portuguesa aos 30 minutos do primeiro tempo, o jogo ainda estava 0x0.

Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

A questão é: quem se importa com o futebol feminino? O Santos perdeu o tempo da bola de forma espetacular com a divulgação, contudo, a questão é mais profunda, trata-se necessariamente da forma como os papeis sociais entre homens e mulheres se mantém inalterados. Ora, se é verdade que a mulher conquistou a duras penas, a partir dos movimentos feministas, espaços destinados exclusivamente aos homens, também é verdade que há uma desvalorização significativa quanto a esta ocupação.

O futebol feminino é desvalorizado pela sociedade brasileira e sobrevive às custas de guerreiras que teimam em ocupar este lugar. Só para lembrar e/ou informar, o futebol feminino foi proibido por um decreto federal em 1941, seguindo a lógica eugênica da época, visto que o futebol era considerado esporte incompatível às condições da natureza feminina. O referido decreto só foi revogado na década de 80. A Seleção Brasileira Feminina conta com baixíssimos investimentos e este ano os times foram obrigados a terem equipes femininas. À mulher foi destinado o espaço privado, ao homem o espaço público. Esta premissa vem se perpetuando por gerações e qualquer mobilização feminista que questione à raiz de tal afirmação é logo tratada como mimimi.

Reprodução

O jogo foi realizado, portanto, no CT da Portuguesa. As arquibancadas eram de madeira e estavam em péssimo estado, não havia cobertura e é obvio que o sol se manteve até o final do jogo. Se nos estádios as estruturas são péssimas, imaginem num CT que não tem como objetivo a realização de jogos! Neste caso, os clubes e a Federação estão completamente equivocados em trazerem jogos para locais tão impróprios. Como levar público para um CT com capacidade para no máximo 50 pessoas?

O placar final da partida foi 3×0 para o Santos com um gol espetacular de Ketlen, jogadora sensacional, camisa 7, pensei até que poderia substituir o Vitor Bueno, quem sabe. Os outros dois gols foram de Natane e Erikinha. O próximo jogo será no dia 19/04, na Vila Belmiro, contra a Ferroviária, às 15h, alguém se importa?