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, Futebol Feminino

27.09.2017

Postado por Patrícia Muniz

Prointer Futebol Clube: histórias protagonistas

Pela primeira vez, a final do futebol feminino da Copa BH foi realizada em um grande estádio e levou quase três mil pessoas ao Independência para assistir a decisão entre América Futebol Clube e Prointer Futebol Clube. Protagonistas de uma final inédita para o futebol feminino de Minas Gerais, o vice-campeonato rendeu às atletas do Prointer um lugar reservado no Museu Brasileiro do Futebol do Estádio Mineirão, onde a camisa do jogo autografada por elas está exposta.

Twitter Mineirão

Twitter Mineirão

O time de futebol feminino do Prointer treina nas noites de quarta e sexta-feira, no campo da barragem Santa Lúcia, e é formado por meninas de várias idades, que saem muitas vezes de bairros distantes, em Belo Horizonte e região metropolitana. O plantel é diversificado e grande, formando equipes A e B para competições municipais.

Os três jogos que antecederam a grande decisão deixaram o clima de ansiedade pairando sobre o campo da barragem. As meninas contam sobre as dificuldades enfrentadas para chegar à final da Copa BH e como o psicológico é o fator de maior influência na hora de decidir a partida.

À espera de um campo neutro, a notícia de que o jogo seria disputado no Estádio Independência e com a presença da torcida, inclusive nos treinos, deram sede de bola e esperança para a equipe do Prointer. A experiência de entrar como atleta no estádio, as credenciais do jogo e as mensagens recebidas de jogadoras da Seleção Brasileira são lembranças vitoriosas guardadas desse dia tão importante para o futebol feminino belorizontino, que tornaram pequena a derrota sofrida dentro das quatro linhas, para o time do América.

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Paçoca

A volante do time da barragem se apresenta como Bárbara, mas Paçoca é como ela é carinhosamente chamada pela equipe. Divertida, inteligente e determinada, aos 22 anos, ela intercala o trabalho como assistente operacional e os treinos do Prointer, aonde joga há dois anos. Paçoca é a responsável por divulgar o time nas redes sociais e incentiva as colegas a perderem o acanhamento para buscar mídia e visibilidade para o futebol feminino.

Arquivo pessoal/Instagram

Paçoca se diverte ao lado de Maíra Lemos – Arquivo pessoal/Instagram

Desde criança Paçoca revelava seu talento para o esporte e chegou a passar em testes para jogar em equipes profissionais de futebol de campo, mas acabou perdendo a oportunidade, pois não teve autorização da mãe. Ainda adolescente ela voltou a praticar, mas jogava apenas em quadra e não estava satisfeita. Quando conheceu Carol, a capitã e também volante do time há 4 anos, foi o momento de retomar os trabalhos em campo e Paçoca começou a fazer parte dessa grande família chamada Prointer.

Foi com o tio que Bárbara aprendeu a jogar e desenvolveu os fundamentos do esporte. Apesar de sua mãe, na época, não aprovar, ela acabou se apaixonando por futebol e, mesmo com as oportunidades perdidas para o preconceito, hoje ela consegue se dedicar minimamente ao que tanto ama e colhe frutos dessa perseverança. Durante todos esses anos jogando bola, os pais de Paçoca nunca tinham ido assistir a uma partida da filha, mas a possibilidade de vê-la pisando no gramado do Independência como atleta levou a mãe da volante às arquibancadas do Horto. A família finalmente abraçou a oportunidade de ver o futebol feminino crescendo.

Twitter Mineirão

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Paçoca admite que o sonho de jogar no futebol profissional existe, mas tem convicção de que a quantidade de portas fechadas para o futebol feminino e para quem ainda está no amador afasta esse sonho da realidade. A volante tem consciência das dificuldades que as mulheres enfrentam para conseguir sucesso na carreira esportiva, fala com propriedade sobre o assunto, mas é determinada e, enquanto existirem oportunidades, diz que vai lutar para alcançar esse objetivo.

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Malu

Maria Luiza se esforça para deixar a timidez de lado e sabe que, para se tornar atleta profissional de futebol por aqui, é preciso muito mais que talento. A modalidade ainda não oferece boas oportunidades em Belo Horizonte e ela sonha mesmo é com uma vaga nas universidades estadunidenses, intercalando os treinos com aulas de inglês. Malu, como é conhecida, tem 16 anos e participa do Next Academy, uma agência de intercâmbio esportivo que prepara atletas de futebol com interesse em ingressar nas universidades dos Estados Unidos, com bolsas de estudos vinculadas ao Esporte Universitário. Ela também chegou ao Prointer através da capitã Carol, que a convidou para participar da equipe, mas sonha com a oportunidade de crescer do futebol amador para o profissional.

Ao contrário de Paçoca, Malu tem muito apoio da família e conta com o incentivo do pai, que a acompanha em todos os treinos. Desde nova ela jogava com os primos e agora é a única que segue se dedicando ao futebol.

Malu, ao centro - FMF

Malu, ao centro – FMF

Referências em campo

Formiga e Cristiane são as grandes referências do futebol feminino para Paçoca. Por conta de sua posição como volante, ela nutre enorme admiração pela maior camisa 8 que a Seleção Brasileira já teve em sua história e até mesmo Malu, que joga como meia-atacante, é uma fã apaixonada por Formiga. As meninas desabafam que é muito difícil acompanhar o futebol feminino pela TV, pois são poucas as mídias que dedicam algum tempo da programação para a modalidade, mas aproveitam toda oportunidade possível para assistir ao futebol jogado por mulheres. A defesa grandiosa da goleira Bárbara, pelas quartas-final das Olimpíadas, responsável por garantir a vaga do Brasil na semifinal, foi vista de perto por Paçoca e Malu, que se emocionaram muito com o jogo no Mineirão.

A grande dificuldade levantada por elas para jogar futebol é em relação às condições do ambiente de treino. Desde os horários disponíveis para o Prointer até o banheiro das instalações, elas enfrentam situações de precariedade. Treinam em um campo de terra em que os refletores só podem ser ligados a partir das 19h30 e precisam liberar o espaço para a pelada entre os times masculinos da região às 20h30 – caso contrário, estão a mercê de verem o campo ser sutilmente invadido pelos rapazes na disputa pelo espaço.

O dinheiro gasto com passagens para chegar aos treinos também é uma barreira e os uniformes utilizados são adquiridos com muito suor através de competições organizadas pela prefeitura, como a Copa Centenário de Belo Horizonte, que fornece os uniformes para as quatro primeiras colocadas da competição.

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Questionadas sobre a consciência de estarem fazendo história no futebol feminino, elas não conseguem esconder a felicidade e orgulho da finalíssima disputada no Independência. Paçoca confessa que nunca se imaginou jogando em um estádio desse porte, com a torcida presente em número expressivo como foi, e que se surpreendeu positivamente com a repercussão. Malu conta de sorriso aberto sobre o reconhecimento de uma atleta que já jogou no Horto.

Elas mal imaginam que fazem história também quando jogam no campo de terrão da barragem, superam a distância e as dificuldades para treinar e resistem bravamente ao preconceito para fazerem o que amam.

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Às vésperas do início do Campeonato Mineiro a FMF impôs regulamento que ameaça as equipes de não poderem participar da competição por falta da presença de médico na comissão técnica e ambulância em jogos como mandante. Dessa dificuldade, as meninas do Prointer criaram um projeto no Catarse para viabilizar o montante necessário. Clique aqui para ajudar, com quantias a partir de R$ 10,00.

 

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