Cruzeiro, Libertadores da América
24.05.2018
Postado por Ana Clara Costa Amaral
Cruzeiro 2 x 1 Racing – Fase de grupos da Copa Libertadores da América 2018
Batismo de fogo. Assim definíamos a estreia do Cruzeiro na Libertadores 2018 em Avellaneda. A revanche, o jogo celeste mais esperado neste primeiro semestre, viria quase dois meses depois num misto de solenidade e tranquilidade.
Não quero com isso me gabar de nada, trago verdades mundanas. A vitória sobre o Racing era uma questão de honra pela campanha na Libertadores, mas entre as torcedoras havia um estranho misto de respeito pelo adversário e confiança em uma goleada; não porque seria fácil, mas porque o dia simplesmente pedia. “Três a zero”, comentei com a Fefê, que também atravessava a Abrãao Caram com uma cerveja na mão. “Ou mais, né”.
A tranquilidade para o ato solene da noite era tanta que, mesmo sem acesso à internet e tendo chegado em cima da hora, resolvi comer um tropeiro do lado de fora. O jogo é às 21:45, tenho 20 minutos para mandar um rangão – pensei com meus botões sedentos por gema mole.
Andando pela Avenida C, os barraqueiros todos informavam que “agora só depois do jogo”. Mesmo com um Mineirão lotado, não é sempre que se vê tanto tropeiro minguando. Mas se toda boa visita merece um banquete, tive que manter a tradição e fui uma de muitas. Andei muito até chegar a uma barraca ainda abastecida. Logo ouvi suspiros do estádio e a tensão me pareceu descabida para o horário. Apenas por precaução, acelero minhas mordidas e já não separo mais a muxiba da cartilagem quando o “zêêêro” toma conta da Pampulha.
“O jogo nem começou e já tamo metendo gol”. Começamos eu e demais retardatários a amenizar as perdas, todos enganados pelo mal parido horário de 21:30. Estava ainda confusa, sem saber se torcia ou não por algum engano, quando o “zêêêêroo!!” ecoou pela segunda vez. Pronto, vamos ver só do 5º gol pra frente, diz meu primo com couve nos dentes.
Corremos desembestados para o Amarelo Superior para apreciar o baile, e nesta vida offline descobrimos que Rafinha não estava jogando depois de procurá-lo detidamente no campo. Estávamos de Henrique, Lucas Silva, Robinho, Thiago Neves e Arrascaeta, quase uma homenagem futebolística à culinária mineira, uma delícia que jamais se prestou à prática de esportes. Não é possível, esse meio-campo é uma merda. Chegamos e só dava Racing.
Foi assim que perdi os 10 minutos de glória do meio-campo que ainda vai matar a torcida do coração. O que não vi ao vivo por motivos de tropeiro dificilmente se explica. Que eu saiba esta formação leva alguns jogos para marcar, mas rapidamente aceitamos o destino vencedor das cruzeirenses e talvez o 2×0 fosse a goleada que prevíamos, só que em escala meneziana.
Dessa vez sem Mano pra bode expiatório, ele simplesmente não tinha as opções. Dessa vez a ‘goleada’ foi mérito. Ainda tivemos Arrascaeta para aliviar o peso do meio campo, mas o camisa 10 abriu a caixa de ferramentas só no segundo tempo, como que para nos lembrar que “ele é tudo isso, sim”. Sofreu pênalti não marcado, perdeu o gol mais feito da partida ainda no primeiro tempo, deu duas assistências perfeitas e desperdiçadas, fora o baile que resolveu exibir. Partidaça, poderá ter sido a última do uruguaio pelo Cruzeiro, caso se confirme a sua venda após a Copa do Mundo.
Não pensemos no que será em julho, não pensemos nem nos próximos jogos, com ZERO jogadores de velocidade contra Santos, Palmeiras e Ceará. Foquemos nos 10 minutos sublimes de volume de jogo e Lautaro Martinez se perguntando aonde está a bola (o VT está aí pra isso). Em TN30 que voltou com estilo do breve período no estaleiro, manteve a estrela de ser decisivo nos jogos importantes, mesmo não tendo uma boa atuação, e Lucas Silva que, como em 2013, anotou de fora da área. O resto do primeiro tempo foi no coração e sustentado por Egídio.
Aliás, este meio campo ofensivo pífio costuma ser salvo pela espinha dorsal defensiva bicampeã brasileira. Além do entrosamento e qualidade – que muitos deles parecem só encarnar vestindo a camisa estrelada – ainda arrumam os gols improváveis e copeiros, como já havia ocorrido contra o Atlético-PR, pela Copa do Brasil. Não foi o suficiente para impedir o gol de Centurión, sozinho na área, mas ficou de bom tamanho pelo sufoco já característico dessa formação.
No segundo tempo o time voltou mais encaixado na marcação e, apesar da ausência de gols, o jogo ficou mais franco e interessante para as duas equipes. Robinho e TN30 assumiram uma postura de maior participação na recuperação da bola e, ainda que lento, o time criou chances perdidas por Sassá e Raniel, que se revezaram como de costume. Rafael Sóbis entrou bem no lugar de TN30 e foi o mais lúcido no ataque, segurando a bola no campo do adversário e passando com qualidade. Ainda foi providencial na defesa.
Bruno Silva entrou no lugar de Robinho para dar mais intensidade na marcação e, reza a lenda, melhorar a transição. Bem… não vou me alongar porque vamos precisar dele mais do que nunca nas próximas rodadas do Brasileiro. Como fez Lucas Silva, ele poderia começar focando em acertar os passes de meio metro. Vigor físico é algo que falta demais a esse time e com mais esmero o meia viria bem a calhar.
Por fim, perdi os 10 minutos iniciais no estádio que não se comparam ao VT, mas vi os 43.000 cruzeirenses presentes aplaudirem TN30 e Robinho, exaustos. Não foi pela performance do dia, mas as barracas, Egideus jogando muito, a recuperação na competição, a liderança levada a sério e o reconhecimento aos jogadores com quem contaremos pelo resto do ano deixam claro que o Cruzeirão é Cabuloso e o olho é lá na frente.
Fotos de Araceli Souza
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