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Futebol Feminino,

07.03.2017

Postado por Patrícia Muniz

Mulheres do Futebol: Tamires

Tamires Dias, aos 29 anos, é a lateral esquerda da Seleção Brasileira. Integrante do grupo original que formou a Seleção Permanente, a jogadora atua no Fortuna Hjorring, da Dinamarca, desde 2015, quando levou o título do Pan-Americano de Toronto pela seleção.

Natural de Caeté, em Minas Gerais, a lateral foi convocada pela primeira vez para representar a Seleção Brasileira em 2013 e, desde então, tem seu nome constantemente presente nas listas de convocações. Quarto lugar nas Olimpíadas de 2016, Tamires é sinônimo de garra e paixão quando o assunto é futebol.

Fernando Frazão/Agência Brasil

Fernando Frazão/Agência Brasil

Como você se aproximou do futebol? Onde começou a jogar?

Eu tenho pra mim que o futebol foi um dom que Deus me deu. Desde bem novinha eu já jogava com meus primos na rua até que, quando eu tinha 11 anos, um morador da minha cidade (Caeté) me viu jogando na quadra poliesportiva e começou a me ajudar a encontrar uma escolinha. Mas, como a maioria das meninas da minha idade, comecei com os pés descalços, jogando nas ruas com ‘golzinhos feito de chinelo e pedra’.

Você ficou um tempo afastada das quatro linhas por causa da gravidez. Como foi esse processo de afastamento e o seu retorno ao futebol?

No total, contando com a gestação, eu fiquei 3 anos e meio sem jogar. Descobri que estava grávida quando eu tinha 21 anos e estava no início da minha carreira como jogadora. Naquele momento, foi um período complicado na minha vida, eu era muito nova e não sabia lidar com a situação muito bem. Mas os meses foram passando e a ajuda familiar e do meu marido foram essenciais para eu entender e desfrutar daquele momento tão único e especial na vida de uma mulher.

O Bernardo nasceu em setembro de 2009 e então eu fiquei 2009 e 2010 sem jogar, somente acompanhando o César, porque ele também era jogador. Fiquei apenas cuidando do Be até 2011, quando surgiu uma oportunidade de voltar a jogar pelo Atlético Mineiro. Como meus pais moravam há 50 km de Belo Horizonte, resolvi aceitar o desafio de tentar voltar a jogar. Sendo assim, o Be ficava com a minha mãe durante o dia, o César continuou jogando em uma cidade de Minas chamada Patrocínio (400km de BH) e eu ia e voltava de BH todos os dias para treinar.

Tive um período maravilhoso jogando no Galo, mas infelizmente a minha família estava separada e não era isso que queríamos. Então parei de jogar novamente em 2012 até junho de 2013. Nesse tempo sem jogar, eu entendia que era um tempo de Deus na minha vida e que minha família precisava de mim por perto, mas meu coração queimava sempre que eu assistia aos jogos de futebol feminino na TV. Deus falava comigo que o tempo era dele e que meu sonho não tinha acabado.

O tempo foi passando e, em maio de 2013, o César recebeu uma proposta para jogar no São Bernardo/SP. Foi ali que vi uma oportunidade de voltar a jogar novamente, porque dessa vez não precisaríamos nos separar mais e o Bernardo, no meu período de treino, estaria nos cuidados da minha sogra. Tudo deu certo, voltei a jogar e para a Glória de Deus, logo dois meses após minha volta, fui convocada para a Seleção Brasileira, onde graças a Deus estou servindo até hoje.

Lucas Figueiredo/CBF

Lucas Figueiredo/CBF

Como os clubes tratam o interesse de uma jogadora em ser mãe ou o fato de uma jogadora estar grávida?

Quando eu fiquei grávida eu estava em transição – saindo do Santos e conversando com alguns clubes -, então não tenho como dizer qual seria a atitude do clube em relação à atleta se ela engravida em atividade. Mas em relação à aceitação do clube contratar uma mãe, eu não tive nenhum problema quanto a isso tanto no Atlético, quanto no Centro Olímpico, que foram os clubes que passei pós-gravidez. Sempre foram bem legais comigo e, se eu precisasse me ausentar por questões pessoais, eram bem compreensivos. Graças a Deus, eu tinha um suporte familiar por trás e nunca passei por essas circunstâncias.

Na Dinamarca, quando eles fizeram a proposta, através do meu representante Luís, desde o primeiro momento eles sabiam que eu tinha família e em nenhum momento isso foi algo que atrapalhasse.

Como foi jogar no Atlético, clube pelo qual torce?

Eu tenho um carinho muito grande pelo Atlético Mineiro, já era torcedora e hoje sou muito grata também, porque foi o primeiro clube que me abriu as portas depois de 2 anos sem jogar. Sou muito grata ao Professor Welisson e ao Professor Lerci. Era muito bom vestir aquela camisa, jogar e ganhar títulos. Acho que aquele ano no Galo se tornou um dos anos mais especiais na minha carreira, pelas barreiras superadas e tabus quebrados.

Reprodução/Jornal O Tempo

Reprodução/Jornal O Tempo

O que mudou na sua vida como atleta depois que você foi jogar na Dinamarca?

Quando recebi a proposta de jogar na Dinamarca, eu e meu marido vimos como uma oportunidade de crescimento. No início, não foi tão simples a questão da adaptação – outra língua, escola para o Bernardo e tal, mas hoje vejo que essa nova experiência me fez crescer muito como mãe, como esposa e como atleta, porque ali seriam só nos três.

Hoje, como atleta, me sinto muito mais preparada psicologicamente, bem mais madura e preparada para lidar com as adversidades. Além disso, é uma grande experiência jogar a Champions League, que é um dos campeonatos mais difíceis mundialmente.

Reprodução/Jornal Hoje em Dia

Reprodução/Jornal Hoje em Dia

Tem algum jogo da sua carreira que ficou marcado?

Tenho sim alguns jogos que ficaram marcados na minha vida, mas o mais recente e mais emocionante foi o jogo diante do Athletic Bilbao, ano passado, em que eu pude ajudar o meu time a se classificar para a próxima fase da Champions League fazendo o gol da classificação no último minuto da prorrogação.

A seleção feminina não tem o mesmo investimento e visibilidade da masculina, mas recebe críticas duras sempre que o resultado positivo não acontece. Como você lida com essa cobrança desproporcional?

A partir do momento que vestimos a camisa da seleção brasileira nós seremos cobradas e temos que ser maduras o suficiente para lidar com essa situação. Infelizmente, ainda não temos a visibilidade e reconhecimento como o masculino, mas todos sabem que, quando colocamos a amarelinha e vamos para um campeonato, iremos fazer o nosso melhor com muito amor e honra à camisa.

Como a participação na seleção feminina influenciou sua carreira?

Fazer parte da seleção brasileira teve e tem papel fundamental na minha carreira. Através dos campeonatos disputados pela seleção pude ser reconhecida mundialmente e também me abriu portas aqui no exterior, como na Dinamarca, por exemplo.

Rafael Ribeiro/CBF

Rafael Ribeiro/CBF

Como foi pra você a chegada da Emily no comando da seleção? Você já percebe alguma mudança?

A Emily é uma técnica muito inteligente, que trabalha 24 horas em prol do crescimento da modalidade e é uma técnica moderna, que tem como estilo de jogo a posse de bola e transições ofensivas rápidas. Ela está com muitas ideias e, com certeza, só tem a acrescentar, tanto para a seleção, quanto para a modalidade.

Com a nova determinação da Conmebol, em breve os grandes times brasileiros deverão ter uma equipe de futebol feminino. Dentro desse contexto, você pretende voltar para o Brasil? Jogar novamente no Atlético é uma possibilidade?

No momento eu não pretendo voltar para o Brasil, porque ainda quero jogar um pouco mais na Europa. Acho que será muito válido para a evolução da modalidade se clubes de camisa começarem a investir, assim terá mais visibilidade e consequentemente mais gente apoiando e torcendo. Pra mim seria um prazer voltar a vestir a camisa do Galão da Massa, mas não é algo que penso por agora. E, infelizmente, fico triste porque não é algo espontâneo dos clubes terem o futebol feminino.

Como você entende essas novas regras que vem obrigando os clubes a formar equipes femininas? Você acredita que haverá de fato incentivo para a modalidade?

É triste saber que o futebol feminino tem que ser algo obrigatório para alguns clubes. Todos poderiam seguir os exemplos do Santos, Corinthians, América-MG e ter futebol feminino, mas espero que tudo isso venha para alavancar a modalidade e trazer o reconhecimento que merecemos.

 

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