Corinthians, Campeonato Paulista
16.02.2016
Postado por Arquivo
Numa época em que a alienação e a ignorância são celebradas com cerveja e música alta, ter um grupo de pessoas que bradam palavras de ordem e cobranças geralmente é confundido com rebeldia e falta do que fazer.
Mas vamos à história: em 1982, o time do Corinthians começou uma maneira diferente de lidar com as decisões da equipe. Tudo era fechado no voto aberto e mudanças na gestão do time também eram decididas por todos. Foi uma união de jogadores e comissão técnica que ia de encontro conflituoso com o modelo do governo brasileiro ditatorial da época.
Quem é torcedor do Corinthians desse período, como eu (nascida em 1984, no fim da ditadura), sofreu muita influência das mudanças de paradigmas que esses jogadores (Sócrates, Casagrande, Wladimir, Biro-Biro, Ataliba, entre outros) nos passaram. O time começou a ser referência, fora de campo, de luta e resistência contra o governo Figueiredo. Nunca houve uma movimentação política tão intensa dentro do futebol como dentro do Corinthians. E nós, torcedores dessa época, somos formados a partir dessa experiência.
Não é de se espantar que a Gaviões da Fiel, nossa maior torcida organizada, não se calasse diante tanto caos no futebol atual; a nossa história e bagagem nos legitimam para irmos além da tal alienação e ignorância já citadas lá no começo do meu texto. Mas o que é mais bonito nessa história toda: o protesto está para além do futebol. Está para um Governo Estadual irresponsável, que teima em tratar torcedores (principalmente negros e periféricos) como bandidos; está para um império midiático que pensa que manda no futebol atual (e olhe que o Corinthians é um dos times mais ‘favorecidos’, inclusive financeiramente por esse império) e duas entidades podres que comandam o futebol nacional e estadual.
O que temos visto são sucessivas tentativas de fazer a nossa torcida, respaldada pela história, silenciar diante tanta atrocidade: o preço dos ingressos, a instituição Sport Clube Corinthians estar rendida ao poder do dinheiro da TV Globo, não termos condições seguras de chegar até o estádio, sermos vistos como bandidos pela Polícia Militar do Estado e sermos reféns dessa máquina estadual cheia de chupadores de sangue. E vou além, amigos: a diretoria do Corinthians NÃO SE IMPORTA COM A NOSSA LUTA. Está pisando na sua própria origem em troca de dinheiro e de uma tranquilidade “velada”. O que é o nosso capitão Felipe pedindo pra retirar as faixas de protesto no clássico, a mando do juiz? Alguém precisa dizer pra ele que nós estamos aqui há muito tempo e temos todo o direito – histórico e constitucional – de protestar onde bem quisermos; nesse caso em frente à grande mídia e às câmeras da TV Globo, que tem o Corinthians como mina de ouro.
Como é feio ver o clube que amo negar o próprio espírito combativo que aprendemos lá atrás com Mestre Sócrates e cia. Que desgosto ele teria se estivesse aqui vendo essa patifaria. Enquanto isso, a torcida apanha nas arquibancadas apenas por dizer sua insatisfação, de maneira pacífica, com faixas e cânticos de ordem. Retrata muito bem a maneira como todas as torcidas são tratadas no Brasil; com o respaldo amoroso da CBF e da FPF.
Gaviões, NÃO PAREM! Continuem combativos pela memória histórica do nosso clube, lutando por um país e um futebol melhor. Somos milhares lutando por isso.
Corinthians, não abandone sua torcida. Não vire as costas para nós. Temos o direito de exigir melhorias nessa sociedade doente. Não dá pra passar a mão na violência nas arquibancadas, nem quando ela vem de torcedores, e nem quando ela parte das instituições ‘referendadas’ pelo Estado. Só temos essa voz pra nos fazer ouvir, não sejam condizentes com quem nuna esteve do nosso lado.
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