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28.09.2016

Postado por Arquivo

O maior inimigo da América: Alejandro Domínguez

Eu demoro pra odiar um ser, de verdade. Mas quando pego raiva não consigo dormir. E essa noite não foi diferente. Ontem caiu como uma bomba algo que eu temia: a Libertadores morreu, ao menos no formato que conhecíamos. Eu não vou dar uma de inocente, longe disso, ao contrário, eu acompanho há mais de vinte anos futebol e sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, como numa espécie de avião em queda que você não sabe quando vai bater.

Para quem não conhece, Alejandro Domínguez é o presidente da Conmebol, a entidade máxima do futebol sul-americano. Tudo que eu vou falar parece notícia do site Sensacionalista, mas não é. Eu sei, vai ser difícil, mas peço que leiam tudo sem rir.

Chegamos a um ponto da modernização onde ele anunciou as mudanças pelo Twitter. E justificou como sendo uma estratégia para desenvolver o futebol sul-americano, ter um calendário mais adequado onde as equipes não precisam decidir entre focar nas competições nacionais ou internacionais e gerar maior interesse do público.

Agora, quem queria Libertadores o ano todo terá, já que serão 10 meses de competição. É legal? Hmmm… em termos. Com um calendário longo, os jogos terão praticamente estádios vazios já que dinheiro não dá em árvore, infelizmente, ainda mais no bolso do torcedor. E já que a preocupação é o calendário, como pensar apenas no nosso torneio sendo que de maio a julho abrem-se as janelas para transferências e as equipes podem sofrer desmanche no meio da Copa? Segundo Domínguez, isso serve para harmonizar os calendários dos torneios de cada país com a competição.

Ah, e dez times eliminados da Libertadores na fase de grupos poderão entrar na Sul-Americana, que passará a ter seis meses (de junho a dezembro).

E para o torneio ser longo, obviamente temos que ter mais clubes. Segundo o presidente serão 42. Primeiro, foi dito por Domínguez que entrarão equipes convidadas baseadas no ranking da Conmebol. E que lista é essa? Uma criada em dezembro de 2015, pela Conmebol, que ninguém sabia para quem servia na época, exceto Alejandro e os dirigentes. Para saber como é feita a conta para entrar no ranking a equação é:

Atuação nos últimos dez anos na Libertadores + Histórico no Torneio (de 1960 a 2016) + Campeões nos torneios Nacionais.

O que faz com que times considerados grandes como Boca e River tenham uma quantidade de pontos enorme e praticamente cadeira cativa. Ah, se quiser mais desinformações é só entrar no site da Conmebol e se perder por lá.

Aí virou um debate no Twitter e Domínguez falou que não teriam convidados. Então a coisa seria baseada no mérito, como é feito na Europa, ou seja, cada Federação decide quem participa.

Victor R. Caivano/AP

Victor R. Caivano/AP

Ainda tem como piorar? Sempre.

A final, que é o ápice com festa e gente cantando não será mais assim, já que será em partida única em campo neutro. Segundo Alejandro é a justiça no esporte, porque sete dos últimos dez vencedores conquistaram o título em casa. Como a equipe que tem a melhor campanha não tem o direito de jogar ao lado de seu povo, sem festa, sem papel picado, tirantes, trapos? Como um time brasileiro vai jogar contra um time argentino nos Estados Unidos? E os torcedores, como irão a uma final numa quarta-feira sendo que tem que trabalhar no outro dia? Ah, não vão! Terão espectadores. Caso o senhor Alejandro Domínguez não saiba, aqui na América Latina ganhamos em pesos, guaranies, reais. Não em euros. E trabalhamos para pagar os ingressos.

A Libertadores tem um peso fundamental para nós: ela é nosso torneio, jogado do jeito sul-americano, com direito a fintas, gambetas, tirantes, alento, murga, porradaria e raça. Nenhum outro lugar do mundo joga como a gente, com tanto sangue, suor, lágrimas e mate. E nós nunca conseguiremos jogar como os europeus. Cada qual tem suas características. Tentar transformar a Libertadores num projeto híbrido de Champions League não é modernizar a Copa, é matar o jeito sul-americano de jogar e alentar.

 

Por Guadalupe Carniel

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