20.07.2017
Postado por Colaboradoras
A resposta dada pelo treinador do Internacional, Guto Ferreira, à pergunta feita pela repórter da RBS TV, Kelly Costa, na coletiva de imprensa realizada após a vitória do time gaúcho sobre o Luverdense, na noite desta terça-feira (18/7), demonstra, nitidamente, que a intenção do comandante era deslegitimar a indagação da jornalista, que tocou na ferida da equipe colorada, pelo fato de ela ser mulher e, por consequência, não jogar futebol nem entender sobre a modalidade.
Esse pensamento não está errado se partirmos da perspectiva das autoridades brasileiras das décadas de 1940 a 1980 que, através de um Decreto Lei, proibiram as mulheres de praticarem futebol. Aliás, o fato de terem sido proibidas de jogar durante 38 anos é um dos principais motivos para não haver uma adesão maior à modalidade feminina, pois quando o decreto foi revogado, em 1979, o futebol já havia se tornado um esporte majoritariamente masculino.
Da mesma forma, a imprensa esportiva, que chamou a declaração do comandante de machista e infeliz, repercute o mesmo preconceito quando deixa de contratar profissionais pelo fato de serem mulheres, quando estabelece que só os homens estão aptos a comentar e trabalhar com a modalidade ao formar equipes predominantemente masculinas e quando excluí a prática feminina.
O futebol pode ser comparado com a sociedade e nela, há quase 30 anos muitas mulheres lutam diariamente para conquistarem visibilidade no futebol e para conseguirem trabalhar na área. Talvez muitas pessoas ainda não saibam, mas elas reconhecem os esquemas táticos e têm a capacidade de analisar tecnicamente uma partida e o desempenho dos jogadores. Mesmo assim, ser mulher e gostar de futebol é ter que provar, sempre, que entende do esporte, é ouvir comentários infelizes, responder a perguntas que tem por objetivo deslegitimar o que elas sabem sobre a modalidade e saber que qualquer fala errada abrirá brechas para as ofensas, mascaradas de piadas.
Por fim, respondendo ao que foi dito pelo treinador colorado, as repórteres e jornalistas esportivas não precisam ter jogado futebol para entender o que é pressão: elas convivem diariamente com os questionamentos sobre suas capacidades de trabalhar com o esporte. Assim como os atletas precisam acertar para ganhar confiança, elas precisam acertar, sempre, para começarem a receber algum tipo de reconhecimento.
Por Cleunice Schlee