24.07.2017
Postado por Mariana Moretti
Quando falamos em goleiros consagrados pelo Tricolor Paulista, o primeiro nome que nos vem à cabeça é ele: Rogério Ceni. Mas para que Ceni e outros goleiros como Gilmar Rinaldi e Zetti pudessem vestir a camisa do clube com a responsabilidade e o brilhantismo que demonstraram, houve antes alguém que lhes deixou o caminho aberto. Esse alguém foi Waldir Peres.
Existe na história do futebol um seleto hall de jogadores que tiveram um matrimônio invejável com a camisa 1. Waldir era o número 1 de uma época brilhante do São Paulo. Em 1975, 1980 e 1981 sagrou-se Campeão Paulista e, juntamente aos valentes Zé Sérgio e Chicão, foi peça fundamental na conquista do primeiro Brasileiro do clube em 1977. Para quem gosta de números: foram 617 partidas em 11 anos de Morumbi. Foi o segundo que mais defendeu o time paulista e teve 3 escalações nos Mundiais de 1974, 1978 e 1982. Neste último, foi titular sob comando de Telê Santana, compondo a seleção brasileira que ficou marcada com uma das melhores de todos os tempos.
Um adjetivo que poderia defini-lo bem era “irreverente”, levando em conta a maneira como entrava no psicológico do adversário com seus gracejos. E que as provocações davam certo, isso dava! Basta conferir na final do Brasileirão de 77 os pênaltis perdidos pelos adversários. Era uma provocação ao pé do ouvido. Um tapinha despretensioso. E o jogador desconsertado mandava a bola por cima do travessão. Mais que irreverente, Waldir era corajoso, característica comum aos grandes ídolos. Coragem e bom humor que talvez tenham vindo de sua inspiração, o goleiro alemão Sepp Maier, o Gato, como era definido por suas ágeis defesas. Com pouco mais de 20 anos, ambos se tornaram arqueiros de seus respectivos clubes, o São Paulo e o Bayern de Munique. Entraram para a história do futebol como goleiros que marcaram uma geração e elevaram a camisa 1 a um nível que, se não superado por seus sucessores, deveria ser ao menos mantido. Tarefa árdua para os que vieram depois.
Eduardo Galeano escreveu que o goleiro carrega nas costas o número um. Primeiro a receber, primeiro a pagar. O goleiro sempre tem culpa. E, se não tem, paga do mesmo jeito. Com Waldir não seria diferente. Apesar de ter sido um dos maiores goleiros brasileiros, um erro na Copa de 82 ainda seria recordado anos depois, uma falha que resultou em um gol da União Soviética na estreia das seleções no Mundial. Diziam ironicamente da CCCP, sigla da União Soviética, Continue Colaborando, Camarada Peres! Mal sabiam eles que Waldir faria piada de si mesmo, bem humorado que era. E foi sua irreverência que também contribuiu para que esse episódio ficasse pequeno diante da carreira que o consagrou como jogador.
Tristes daqueles que não sabem rir de si mesmo, pois a vida é curta demais. Aos 66 anos, deixando nosso mundo para um melhor, Waldir soube conciliar talento e bom humor, sendo um dos maiores ídolos do São Paulo e também do Brasil. Que descanse em paz, que possa olhar por nosso Tricolor de um ângulo privilegiado, e esperamos que a homenagem a ele possa vir da recuperação do nosso futebol bem jogado, da inspiração em campo, colocando um sorriso no rosto da torcida, como há de ser, e será! Vida longa aos nossos ídolos! O céu hoje tem três cores.