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, Futebol Feminino

06.10.2017

Postado por Marina de Mattos Dantas

Prointer: origens (parte 2)

“Nome meu time tem, uniforme o meu time tem. Eu preciso é de apoio financeiro”
Seu Evaristo

Na segunda parte da história de Seu Evaristo e do Prointer (e terceira parte dessa série), conferimos também algumas dificuldades atuais que o clube encontra para se manter nas competições de futebol feminino.

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Quando se trata de investir em futebol feminino a regra do mercado é clara: o mínimo de investimento possível. Para disputar o Campeonato Mineiro, o Prointer encontra dificuldades para cumprir as exigências mínimas, como disponibilizar ambulância, médico e pagar a taxa de arbitragem.

Uma saída encontrada por Seu Evaristo foi a confecção de camisas para vender aos torcedores ao preço de R$60, para fazer os uniformes para as meninas disputarem o campeonato mineiro. O próprio fornecedor das camisas entrou como patrocinador em parte da produção.

O custo médio de um jogo completo com 25 peças sai por volta de dois mil reais. Se a arrecadação for boa, Seu Evaristo gostaria de fazer também um uniforme de passeio para as meninas (quatro mil reais).

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Recrutamento e família

Perguntamos para o presidente o que mudou no futebol feminino dos anos 1980 para os dias de hoje. Ele respondeu:

“Muita coisa. Porque antes tinha algumas que gostavam de jogar bola, tinha outras que gostavam, mas que a família não deixava, porque futebol não era coisa de mulher. A gente não conseguia ter campeonato”.

Por onde passava, Seu Evaristo buscava jogadoras para fortalecer o seu time. A tônica da conversa com as famílias, em um tom de convencimento, permeia a história narrada pelo presidente.

“A dificuldade das famílias é que elas achavam que futebol não era para mulher. Que era coisa de homem. Então não gostavam de deixar [elas jogarem]. Tinha muita menina que gostava de brincar com bola, vinha para o campo treinar, mas a família não deixava, porque tinha esse [pre]conceito, né, de não deixar porque futebol não era para mulher, era para homem. Mas aí tinham umas que já eram mais velhas, vinham vindo, vinham trazendo [as outras]…”

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Seu Evaristo ainda nos contou que a maioria das mulheres que os procuram fazem contato pelo facebook. Quando a campanha do time está boa, as ligações aumentam. Sempre aparecem umas meninas no meio dos meninos nos times que usam o campo da Barragem Santa Lúcia.

“Tem uma mesmo aqui que eu achei ela jogando no meio dos meninos. Ela era treinadora dos pequenininhos, do Infantil e jogava no Juvenil. Cheguei, fiquei sentado aqui, assistindo ela jogar no meio dos meninos de zagueira. Aí o treinador dela tava aí, eu conversei com ele, e ele falou: “Ah rapaz, um cado de time já chamou ela e ela não foi não”. Eu falei: “talvez eles não conseguiram conversar certo”.

Seu Evaristo conversou com a mãe da menina que disse não ter condições de trazê-la para treinar. A mãe da menina cuida dela e de mais três filhos. Para contar com o reforço, o presidente propôs pagar a passagem para que a menina fosse aos treinos. A menina é a jogadora Bianca, sobre a qual conheceremos um pouquinho no próximo texto dessa série.

Perspectivas

Passado o segundo lugar na Copa BH, em julho desse ano, as meninas do Prointer aproveitam a exposição extra que tiveram na mídia para se lançarem para outros públicos que não os de seus torcedores e torcedoras. Muitas esperam uma chance de ir para algum clube que as pegue para jogar dentro ou fora do país.

Seu Evaristo conta que não foi procurado por clubes de futebol profissional para estabelecer parcerias. Fez uma proposta ao Vila Nova, de Nova Lima, mas achou insatisfatório o retorno que o Leão do Bonfim propunha: apenas uniforme, o campo e o nome para jogar. “Nome meu time tem, uniforme o meu time tem. Eu preciso é de apoio financeiro”, contou o presidente.

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Recentemente, as meninas do time lançaram uma campanha de financiamento coletivo para arcar com os custos do Campeonato Mineiro que já está em curso.

Fotos de Instagram @prointer_fc

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