05.01.2018
Postado por Ana Clara Costa Amaral
No embalo da passagem do ano e da festa do dia 2 no Barro Preto, quando sopramos 97 velinhas, a perspectiva cruzeirense é… azul. Mas, agora que acabou a temporada abestada, ou silly season, como adaptam livremente os ingleses esta imemorial expressão mineira e nordestina, é hora de levar a sério 2018. O ano começa diferente, não sei se é a Copa do Mundo, se são as eleições ou se é o Fred, mas estou à flor da pele e não estou sozinha. Visto da Toca da Raposa, 2018 não é apenas um ano promissor, mas um ano que é pra botá pra fudê – a única unanimidade possível.
Vão-se embora as eternas promessas Alisson e Élber, o importante Hudson e também Diogo Barbosa, única peça sem substituição à altura. Mas, no geral, é impossível não sentir que esse ano promete e que o elenco está ainda mais qualificado. Não só as contratações, mas também muita gente boa e jovem voltando de lesão – Judivan, Raniel e Sassá são indícios fortes de que os dias de titularidade de Rafa Marques e Sóbis, ao menos em sua versão meia boca, estão contados. Com David, Fred e Sóbis, são muitas as boas opções ofensivas.
Temos laterais titulares e reservas nos dois lados. Quando foi que isso aconteceu pela última vez? A zaga e a meiúca permaneceram intactas já que, convenhamos, Ariel Cabral sempre foi o legítimo dono da 5. Pitaco que Bruno Silva não vai ter vida fácil pra ser titular.
Temos também a vantagem de ter 2009 ainda fresco em mente, mas não tanto quanto 2013, 2014 e 2017. A temporada, que já vinha farta em lições de conquistas e pés na bunda desportivos, ganhou nos meses derradeiros os elementos dos boleros e tangos que faltavam: ameaça de morte, pindaíba negada e reafirmada, traição e reviravoltas nas eleições da nova diretoria e Conselho, além dos retornos cínicos de Perrella e Fred. Inveja não é exclusividade de 2017, mas que teve, teve.
A folha salarial, atrasada, aumentou e lá está Serginho, aquele que apresenta as zueiras do Cruzeiro no Alterosa Esporte, agora chefiando a Comunicação do clube. Psicodelia? Nada, se comparado às declarações de Fred.
Com a boca murcha de quem tá na vigésima tomada de vídeo, pra mim, não vale nem mil chapéus no rival. O silêncio é tão mais apropriado que ele mesmo nem se despediu do ex-clube e é uma pena que não tenha chegado do outro lado da Lagoa com a mesma discrição. Veio pra escorar bola do Thiago Neves e ajudar o Fábio a levantar mais canecos. Quem sabe, daqui há 3 anos, consiga sair pela porta da frente.
Dissonante de outras escolhas, o marketing e o departamento médico são pontos positivos da nova diretoria e prometem avanços nesta temporada. O DM, muito criticado, passará por reformulação completa, de pessoal e equipamentos, utilizando a expertise do time de vôlei. Dá pra sonhar com o fim do calvário de Dedé? Já Marco Antônio Lage, novo diretor do marketing e responsável pela cerimônia de posse da diretoria, bancou uma apresentação de dança contemporânea do Grupo Corpo e rebateu as críticas previsíveis, afirmando:
“O papel do Cruzeiro é contribuir com esse processo educativo. Repugnamos qualquer ato de racismo e homofobia. A sociedade tem evoluído muito e isso não cabe mais no futebol. Por isso, sabemos que é um longo processo, mas temos apoio de grande parte da torcida”.
Já havia sido amplamente divulgado que o currículo de Lage justificava sua contratação, devido aos 25 anos na comunicação da FIAT. Mas a postura no episódio do Grupo Corpo surpreendeu muito positivamente. Que seja a tônica de todas as ações do clube!
Ou seja, vimos de tudo um pouco a bordo da nau comandada por um presidente meio bobo e caloteiro e sua sucessão bizarra e, ainda assim, cá estamos, pentacampeões com um puta elenco mantido e aperfeiçoado, treinado pelo técnico mais longevo do país e deliciosamente negligenciado pela mídia.
Fato é que o time tá montado e a esta altura já ficamos combinados que é indelicado perguntar como. Firma o corpo, apegue-se à Dona Salomé, que 2018 não veio a passeio pros celestes. Não vejo a hora de jogar contra o Democrata de Sete Lagoas, não vejo a hora de conquistar a América. Dos invejosos, de nós mesmos e dos credores as deusas nos protejam, pois vamos com tudo com o Cruzeirão mais sem freio do que nunca.
Vale lembrar, ao fim, quem tem obrigação de ganhar o Mundial é o Fred. O Cruzeiro tem a obrigação de honrar a nação em todas as competições do ano. Já à torcida, cabe o bipolar direito de reclamar da música e nos dias de baile na Pampulha dançar como se o Brasil inteiro não assistisse. Não se sabe o quanto pode durar. Vamos ao encontro do Zêro mais safo dos últimos anos, pelo menos uma vez por semana, reclamar promessas sem lastro sob os protestos de gente mais sensata.
Como nos boleros.
Texto com colaboração do coletivo RAP Feministas
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