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09.01.2018

Postado por Jaqueliny Botelho

No circo a torcida recebeu papel de palhaço

Rueda chegou ao Flamengo com status de “o cara”, ocupou a vaga deixada por Zé Ricardo e assumiu o comando do time no segundo semestre de 2017. Campeão da Libertadores da América em 2016, pelo Atlético Nacional, o treinador foi muito solicitado por parte da torcida, que cobrava intensamente por um técnico minimamente íntimo às grandes conquistas.

Fonte: Gilvan de Souza/Flamengo

Fonte: Gilvan de Souza/Flamengo

El profe chegou mostrando trabalho, colocando no banco alguns contestados e assim dando oportunidade a outros que estavam sumidos do time titular, a exemplo do Cuéllar. Título, nenhum, dois vice-campeonatos e uma classificação para a Libertadores. A esperança vinha de um ano novo, com mais planejamento e pré-temporada bem treinada, imaginávamos!

Chegaram as férias e logo nos primeiros dias a imprensa chilena começou o bombardeio com notícias de que a seleção do Chile seria comandada por Reinaldo Rueda. No Flamengo ninguém sabia o que estava acontecendo; o técnico sumiu do mapa e de férias, seria natural que ele se ausentasse de assuntos relacionados ao trabalho. Diante de muita especulação, o silêncio ensurdecedor de Rueda começou a incomodar a torcida rubro-negra, que já estava desacreditada da permanência do treinador no cargo.

Enquanto isso, a imprensa brasileira replicava notícias de jornais chilenos, dando créditos à fonte e não averiguando o que estava acontecendo. A multa do contrato cairia pela metade na virada do ano e a apreensão era de que ele se desligaria do clube logo após a redução. Com o retorno do técnico marcado para o dia 08, a torcida impaciente se dividia em acreditar no bombardeio da mídia e na possibilidade de que tudo poderia ser uma das maiores fake news da história do esporte.

Mas começaram a aparecer indícios de que ele iria sim deixar o Flamengo: o amigo que desejou boa sorte, o agente que viajou para o Chile, o contínuo silêncio do treinador… Tudo indicava que ele não retornaria, mas o torcedor apaixonado e cego não quis enxergar o que estava óbvio.

O técnico desembarcou no Rio de Janeiro na segunda pela manhã do dia 08 de janeiro, questionado ainda no aeroporto sobre a sua permanência, desconversou. Mais uma evidência de que não ficaria. Calma! Ainda tem uma reunião com a diretoria. E foi após a reunião que o Flamengo soltou a nota informando o pedido de demissão do treinador.

Sem querer levantar argumentos românticos de uma relação que envolve dinheiro, e muito dinheiro, mas seria pedir muito evitar o desgaste do torcedor que quase ficou maluco com tanta informação vinda do Chile? Seria também pedir muito que o profissional se desvinculasse do clube em tempo hábil para que o mesmo pudesse procurar um substituto no mercado? O silêncio absoluto incomodou, exceto a diretoria, que ficou agarrada na expectativa de que o treinador cumpriria o contrato, ou sei lá, talvez o que eles queriam mesmo era o fim do acordo e a torcida era a única parte preocupada na história.

Aparentemente, a torcida é também a única preocupada com a falta de planejamento no início das temporadas. Agora, iniciaremos sob o comando do técnico Paulo César Carpegiani, apresentado rapidamente após a nota de demissão. Aos apegados em acontecimentos históricos, Carpegiani comandou o clube nos anos 81 e 82. Em contraponto, a última conquista como técnico foi o Campeonato Baiano de 2009, pelo Vitória.

Fonte: Gazeta Press

Fonte: Gazeta Press

Outro fato digno de questionamentos é a relação entre Rodrigo Caetano e Carpegiani, fica a dúvida se escolheram o que é melhor para o Flamengo ou se a escolha foi pelo vínculo amigável com o gerente de futebol.

Todo o circo envolvendo imprensa, seleção, clube e treinador teve como plateia o torcedor, o único incapaz de interferir. Ao longo de quase um mês a torcida acompanhou as notícias vindas de fora e replicadas aqui, a diretoria sentou na plateia junto com a massa rubro-negra para assistir ao espetáculo e trouxe também a imprensa brasileira, que abriu mão de apurar as informações e deixou que a chilena fizesse todo o trabalho. Atrás das cortinas estava o treinador, a seleção e a imprensa chilena. Duas partes alimentavam o espetáculo enquanto o treinador fazia o estilo clássico daquele meme memorável “nunca nem vi” e, no fim, descobrimos que a parte digna do título de palhaço foi a torcida. Feitos de tontos não sabíamos em que acreditar e não teve uma alma que viesse a público esclarecer o enredo do espetáculo.

E 2018 ainda nem começou, boa sorte ao Carpegiani, desde já, que ele seja capaz de invocar a mística rubro-negra de 81. E el profe, hasta nunca más.

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