25.03.2018
Postado por Roberta Pereira da Silva
Santos 0 x 1 Palmeiras – Semifinais Campeonato Paulista 2018
O último sábado do mês tem um gosto especial. Encontro-me com companheiras de escrita, de fala, de paixão e de luta. Estas, por sua vez, não acompanham o futebol. Perceberam que não disse: estas não ENTENDEM de “futebol”. Todas (os) moradoras (es) deste país colorido e violento entendem de futebol, sabem como ele penetra nas nossas vidas medianas. Ao comprar um produto alimentício, nos deparamos com a cara de um certo jogador que se recupera do pé em festas. Ao ligar a TV, não importa o horário, haverá um, dois, até quatro homens, em sua esmagadora maioria brancos, comentando sobre o jogo dos pés. Para as moradoras(es) das grandes periferias, será inevitável não acordar aos sons dos fogos da várzea. Então, entendemos sim de “futebol”, o que nos diferencia é que algumas pessoas acompanham as quatro linhas.
Parem de dizer que mulher não entende de futebol. Há mulheres que acompanham, outras não. Entender/Compreender é do humano, basta se pré-dispor a acompanhar. E quantos homens não acompanham o futebol, e como estes mesmos homens sempre estão em local de privilégio do saber?
Pra que tanto devaneio? Bem, hoje não fui ao Pacaembu acompanhar a partida entre Santos x Palmeiras pela primeira partida das semifinais do paulisteco. Mas na quarta-feira, desci a serra para assistir os dois últimos tempos entre Santos x Botafogo, pelas quartas de final.
Desde a entrada da rua da Vila, os homens, vendedores de todo o tipo de coisas para utilizar no jogo, somente dirigiam-se ao meu companheiro. “Patrão, quer isso?”, “Ingresso?”, “Já tem ingresso, campeão?” ou “Capa, 5 reais!”. Senti uma invisibilidade cortante. Quando cheguei à catraca, uma gentil senhora exclamou: “Quem é o dono do Sócio-Torcedor?” Prontamente olhei em seus olhos e disse, eu sou a “dona”. A gentil senhora retrucou: “temos que usar sempre o masculino”. Engoli seco e subi as escadas. Quer coisa pior? A porcaria do cartão de sócia tem faixas cor de rosa. Mas deve ser no masculino. Chega!
Sentamos no lugar mais desanimado da Vila, mas o único, além dos camarotes, que barra a chuva. Eu, com a face totalmente comprometida por uma sinusite, não podia me arriscar. Eram duas ou três mulheres presentes. E vejam só, o Santos F.C. tem 22% de mulheres como sócias. Pouco? Sim, absolutamente, porém, é o quarto time do Brasil com maior número de sócias. E mais devaneios: um senhor de cabelos brancos mais uns dois sentados nos bancos de trás, a todo momento, perguntando: “Qual o nome desse?”, “Quem é esse que vai entrar?” ou até mesmo, “Onde está a torcida adversária?”. Agora eu te pergunto: olhando de longe, quem não “deveria” saber os nomes dos referidos jogadores? Pausa dramática.
Os longos 90 minutos não empolgariam nem com uma bateria de escola de samba acompanhando o Show do Baiana System. A chuva não parou, e quero fazer uma homenagem à torcida santista, guerreira, aguentando a chuva na cabeça e no coração, o aperto de ver um time sem qualquer possibilidade de marcar contra o Botafogo. 180 minutos de zero a zero. Sequer nos pênaltis os jogadores queriam fazer gols. E, ao final, Santos classificado para as Semifinais, pelo placar de 0X0 nos 180, e 3×1 nos pênaltis.
Contra o Palmeiras, o que faríamos? Meia armador? Não temos. Jean Mota foi substituído por Vitor Bueno. Será que ele entraria como titular? Diogo Vitor seria uma opção? Daniel Guedes, um tanto apagado, faria novamente as jogadas com Arthur Gomes pelas laterais? Gabigol finalmente entenderia que se joga com e para o time e não para si próprio, e tocaria para Rodrygo? Jair tiraria uns coelhos da cartola e pensaria em uma estratégica mágica? Bem??? Como estou escrevendo estas linhas pós jogo, posso responder que perdemos por 1×0 para o time da Turiassú. O Santos começou a jogar por volta dos 35 minutos do primeiro tempo. O time que entrou em campo foi Vanderlei, Daniel Guedes e Dodô nas laterais, David Bráz e Veríssimo na zaga. Até aí, nada de novo e não precisa mesmo alterar, ausências como a de Daniel, hoje e contra o Botafogo, são comuns e compreensíveis.
No ausente meio de campo, jogamos com Renato (penso eu que a estratégia foi colocar um cara experiente em clássicos), Alison, Diogo Vitor mais avançado, Arthur Gomes e Sasha abertos e Gabigol isolado na frente (na frente do time e na sua própria frente no seu individualismo), na esperança de fazer um gol e ser aquele que resolve, pra si mesmo. Jean Mota e Vitor Bueno entraram no segundo tempo, Rodrygo com energia de um menino de 17 anos (não é analogia, ele tem mesmo 17 anos) compôs o time na segunda fase.
Segundo tempo, o Santos foi mais ofensivo: teve pelo menos três chances de gol, encerradas nas mãos do goleiro adversário. E, apenas isso, adversário nas quatro linhas, porque enquanto jogador profissional de futebol merece nosso reconhecimento e suas atuações desmontam todas as teorias eugênicas que vigoram até os dias atuais responsáveis por subjugar os goleiros negros. Além de ter ocorrido um fato mais raro que goleiros negros: a presença dos dois técnicos negros na mesma partida. O time jogou melhor que na partida anterior, mas… difícil… bem difícil a agonia de ver o time…..
Minha exaustão me fez ausente da bancada no dia de hoje, a torcida única me fará ausente na partida de volta. Não vou fazer firulas para dizer que o Santos passa. Só sei que o jogo está aberto, e há possibilidades. Torço por isso.
Fotos de Ivan Storti
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