Grêmio, Libertadores da América
05.04.2018
Postado por Raisa Rocha
Grêmio 4 x 0 Monagas – Fase de Grupos da Copa Libertadores da América 2018
Nascer, crescer, amadurecer, viver, envelhecer e morrer. Na rota da vida, vamos nos tornando tal e qual nossos pais e, um a um, os ditos e crenças vão se justificando com os fatos e os tombos. “O que é bom dura pouco” é um deles, assim como aquele que determina que se viva o dia de hoje como se fosse o último e por aí vai…
Dezoito meses e quatro títulos (porque o do Gauchão se confirmará no domingo) é o limite da nossa alegria? Não sei, espero que não. Até que me provem o contrário e espero que esse dia ainda tarde, Renato fica no Grêmio. “Ahh, mas não foi o que ele deu a entender na entrevista”. Não foi mesmo? Será que não se trata de mais um episódio de má fé e distorção dos fatos da imprensa ou, acreditando na bondade alheia, simplesmente erro de interpretação?
Antes de ler linhas editadas, recomendo que escutemos todos as palavras do Portaluppi em consonância com suas feições e tom de voz. Para mim, o homem gol não sai do Grêmio, não ainda, e sua jogada não passa de firula de craque para ganhar tempo até o chapéu que há de vir nos fuxiqueiros da imprensa e nos adoradores cariocas da moeda e do xeirinho.
Falando do que interessa mais, noite de Libertadores na Arena do Grêmio, coisa que amamos como cerveja e já estávamos com saudades! Ainda assim, um público mediano bateu ponto no Humaitá, acredito que pelo horário da partida e pela crise (do futebol, do país, da humanidade, ai minha nossa senhora…!). Mas não importa, futebol é coletividade e tanta gente junta há de gerar força de resistência. O futebol, que é do povo, pode e deve ser usado como instrumento para ecoar os anseios da massa. Pensando nisso, amigas e amigos da Grêmio Antifascista fizeram a parceria com a Bola que Pariu na distribuição de material de luta e resistência, na linha de frente feminina, trazendo à tona os já conhecidos números do machismo no Brasil.
Começa o jogo e eu, cansada, baleada da rotina pesada que inclusive me tirou de jogo na primeira partida da final. Como devem ter notado, estive sem fôlego para trazer minhas habituais linhas após o jogo. Exausta e sem tônus acompanhava a partida, igualzinha ao Grêmio do primeiro tempo.
Com Maicon e Arthur no meio, começamos com dificuldades na troca de passes. Nesta noite, Arthur quase entregou bola perigosíssima na frente da nossa área e me parece que errou mais passes do que em toda sua vida de titular do Grêmio.
Aos poucos o Rei de Copas foi até dominando o campo e a posse de bola, como habitualmente faz, mas dessa vez de forma totalmente inofensiva. Faltava inspiração aos nossos melhores jogadores. O time aceitava a marcação e errava o básico da troca de passes. Mesmo assim, alguns espaços apareciam conforme a movimentação da equipe e eu acreditava que o gol bateria à porta numa questão de tempo. Mas foi do fechado e estratégico Monagas a primeira conclusão, com um peixinho perigoso no centro do gol, aonde repousava a muralha Grohe.
Paralelo à distração do time em campo, à espreita Alisson já aquecia desde os 35′.
Levou quase um tempo inteiro de jogo pro tricolor conseguir esboçar alguma coisa ofensiva. A sequência de chances com Luan, Ramiro, Everton e Kannemann deram uma animada antes do intervalo, mas não bastou para abrir o placar na noite que não parecia das mais azuis, justo na data do aniversário do irmão menor, o vermelho…
Metade de jogo de puro toquinho, letra furada, invenção e marasmo. Na saída para o vestiário, Maicon afirmava que “entramos dispersos e errando coisas bobas”. Sim, capitão, essa de fato “não é a nossa equipe”. A aura da Libertadores pairava, mas o Grêmio curiosamente parecia desacostumado e sem tesão para encarnar o sentimento necessário.
E é nestas horas que Renato entra em campo, como nos velhos tempos. Todo treinador tem seu talismã e se agora Everton é titular e Cícero não bancou a chance, Alisson tomou para si a função. Pra buscar os três pontos urgentes na fase de grupos, o Portaluppi fez no intervalo aquela modificação que vai se tornando habitual: sai Léo Moura, Ramiro é deslocado pra lateral e o guri Alisson entra pra agitar e fazer o espelho com Everton pelas ponteiras de ataque (o que não é uma verdade completa, já que o Cebolinha passou a se movimentar por todo o campo e muito também pela faixa central, trocando com Luan e com Jael, desnorteando a marcação).
Apita o juiz e o tricolor se mostrava de fato mais afim, só o necessário. Tocou a bola, costurou e virou o jogo pra aos 5 minutos achar Cortez, que acertou cruzamento (finalmente) à meia altura pra peixinho certeiro de Jael. Cruel!
E eu? Achei a comemoração xoxa e temi por um “apagão” seguido de empate. O que aconteceu? O contrário! O gol soltou o tricolor e veio o bombardeio. Na sequência, Luan meteu na trave, Jael bateu de fora, Luan errou cabeceio, Luan perdeu outro e o Grêmio foi acumulando chances. Enfim à vontade, envolveu e sufocou o campeão venezuelano com movimentação e domínio típicos de um verdadeiro conquistador da América. Enfim o bom futebol e vitórias individuais do seu qualificado elenco, principalmente de Everton, que deitou e rolou e marcou o segundo gol, aos 15′ de jogo, após bomba de fora de Maicon e rebote do goleiro.
Tá jogando muita bola o Cebolinha, tchê!
Dali pra diante foi um passeio, deu até pena do Monagas. Luan meteu o terceiro após belíssima enfiada de Arthur. Merecido! O nosso camisa 7 fazia noite incomum, com muitos erros e não à toa berrou um “sai zica” como comemoração. Assim é a vida dos craques, mesmo naquele que não é o seu melhor dia, brilha e ainda leva o troféu de melhor da partida (que eu entregaria nas mãos de Everton!).
Pra terminar, Cícero. O lance foi humilhante, começou com uma troca de passes irritante na direita entre Arthur, Ramiro e Alisson, teve drible desconcertante de Everton na linha de fundo e terminou dentro da área, como se fosse um time de profissionais contra alguma categoria de base.
Alisson não deixou o seu, mas participou intensamente das tramas no ataque e dos gols marcados, confirmando o acerto da sua vinda.
A tranquilidade quase irritante com que jogam principalmente Maicon, Luan e Arthur é o retrato deste Grêmio, receita para o bem e para o mal. É um time que tem por premissa ir aos poucos para encontrar os espaços e que ensinou uma calma e uma paciência ímpares à sua torcida, que apredeu a acreditar que tudo é possível sem desesperos ou passes rápidos ou conclusões precipitadas quando nós, mortais, julgamos que seria a hora.
É este o nosso Grêmio, inteiraço pra ser campeão gaúcho no próximo domingo e agora trilhando de forma mais aliviada a sua caminha pela América em 2018. Com 4 gols tem o maior saldo do grupo 1 e nas duas próximas rodadas tem confronto direto pela liderança contra Cerro Porteño: no Paraguai em 17 de abril e em Porto Alegre, no 1º de maio. E vamos tricolor, nós queremos a Copa mais uma vez!
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