Cruzeiro, Libertadores da América
21.09.2018
Postado por Ana Clara Costa Amaral
Cruzeiro 0 x 2 Boca Juniors – Quartas de Final da Copa Libertadores da América
Mais uma página imortal, em meio ao caos das últimas semanas. Os primeiros 90 minutos do grande clássico sudaca merecia um desfecho mais digno, mas infelizmente o VAR resolveu, mais um vez, protagonizar a partida.
O jogo na Bombonera era disputado. Sentido da ausência de Arrascaeta, o Cruzeiro não apresentava a contundência costumeira nos contra-ataques, mas a raça e organização do time garantiam uma disputa parelha. A primeira chance de gol do jogo foi celeste, em lance de escanteio, logo aos 2min de partida, e o domínio estrelado seguiu até os 15min iniciais. A partir daí, a lentidão característica dessa formação 30+ se fez sentir e o Boca Juniors dominou as iniciativas, mas com muitas dificuldades de penetrar a zaga. O dia morno dos jogadores de criação compensado por mais uma grande atuação de Dedé, Leo, Henrique e Lucas Silva.
O Boca Jrs abriu o placar aos 35 minutos, com boa enfiada de bola de Pérez para Zárate, em um dos raros deslizes das linhas defensivas menezianas. Era tanta gente estacionada na área que não viram o camisa 8 atrás da linha da grande área, saíram desembestados em sua busca, apenas para Zárate receber dentro da área, justamente aonde o ônibus do Cruzeiro havia estacionado segundos antes. Acontece, principalmente quando o time não conseguia segurar a bola com Barcos, Rafinha ou TN30 nem por alguns instantes no campo adversário.
Mas o segundo tempo começou diferente, a despeito das escalações persistirem. A marcação subiu, Egídio largou a zaga para o bem ou para o mal, Rafinha se encontrou em campo na direita, e o time partiu para o empate. Logo no início, o Cruzeiro teve mais uma chance perdida com TN30, dessa vez sozinho no meio da grande área para cabecear bola açucarada de Robinho. Ele perdeu o tempo da bola e furou.
Três minutos depois, mais uma bola perfeita de Robinho, dessa vez para Rafinha. A zaga peleou e tirou o grito de gol já em cima da linha, em lance muito parecido com o gol do Boca no primeiro tempo. Faltou a TN30, que acompanhou o lance, a mesma fé do zagueiro argentino… Não era o dia de Thiago Neves e logo foi substituído por Rafael Sobis, que jogou melhor.
O segundo tempo seguia como uma peleja excelente de Libertadores, aquelas pelas quais esperamos o ano inteiro e rodada após rodada de mistão no Brasileiro. O Boca equalizou o volume de jogo, criou oportunidades, e o Cruzeiro respondia com contra-ataques perigosos. Muita raça e respeito dos dois lados, alguns passes errados e sensação de que o gol poderia sair a qualquer momento, em qualquer banda do campo.
Até que o VAR entrou em cena para acabar com o espetáculo raiz que a noite nos presenteava. O goleiro xeneize já estava sendo atendido em campo há algum tempo, após choque de cabeças com Dedé, quando o árbitro resolveu analisar o lance pelo vídeo. Alguém na sala mágica do VAR deu o precioso toque. Se influenciado pelo sangue que saía da boca do goleiro, pela torcida ou pelo apito amigo de alguém, ainda não se sabe.
Toda essa “parança” e protagonismo da tecnologia já haviam dado sinais de desgosto na semifinal contra o Palmeiras, quando a toda hora o juiz parava o jogo para resenhar pelo maldito intercomunicador, que já deve estar dando linha cruzada com tanta gente conectada. A imagem de Dudu pedindo a “telinha” para resolver o legítimo dono de um lateral era mais um presságio da já mal agourada tele-arbitragem, que só serviu para deixar o futebol em segundo plano, mesmo se não acionada.
Mas, para além da banalização e o grande estorvo que é o VAR, ninguém poderia imaginar que, dando-se ao trabalho de rever o lance, o juiz fosse tomar qualquer atitude senão retomar mais uma vez a partida. Para a surpresa de todos que assistiam e jogavam, o árbitro retornou ao campo convicto do que seria a primeira expulsão de Dedé vestindo o manto sagrado. Não tem o que se dizer do lance, em qualquer hipótese é difícil imaginar uma agressão com uma cabeçada voadora. Mas é especialmente doído por se tratar do Mito, o melhor em campo pelo Cruzeiro e igualmente admirado fora das quatro linhas.
A partir daí, foi segurar as pontas e tentar manter o equilíbrio, mas o time falhou mais uma vez com Edilson, que tirou mal a bola da área e ela ficou pululando livre para Pérez fechar o contador. Rafinha saiu para Manoel recompor a zaga e trazer um resultado reversível para o jogo de volta, no Mineirão.
Vergonha e preguiça desse futebol moderno definem a semana, nesta que já é a última Libertadores com finais disputadas nas sedes dos clubes e torcidas finalistas. Cada vez mais telinha, cada vez menos gente, até que se toquem do abismo existencial a que estão relegando nosso futebol. Mas a despeito do VAR, da Conmebol, da CBF omissa e da elitização na nossa própria casa, próximo dia 4 as mulheres estarão no Mineirão pela festa. Rumo ao tri com Dedé em campo, se a Conmebol conseguir amenizar a lambança; sem Dedé em campo, rumo ao tri só de picardia.
Lembrando sempre que #AqueleTremNão tem lugar no Mineirão.
Fotos de Demien Alday/Getty Images
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