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, Futebol Feminino

30.01.2017

Postado por Renata Figueira de Mello

ENTREVISTA com Pellê: Do campo para as rédeas do futebol feminino

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Zibio.com

Aline Pellegrino, por 9 anos jogadora da seleção brasileira de futebol feminino, capitã do time que revelou Marta e outras grandes, ex-sereia do Santos FC, tendo atuado também no São Paulo FC, podia até achar que, com a aposentadoria dos campos, ia se ver livre do futebol. Mas que nada…

O futebol feminino já estava no seu sangue. Apesar de não ter sido a primeira escolha. A escolha era o esporte. Desde pequenina. Aos 6 anos brotou a paixão por competir, ainda como brincadeira, mas que ela foi levando a sério e aos doze já sabia que o esporte de alto rendimento estava no seu destino. Passou pela ginástica olímpica, pelo atletismo, pelo handebol e até o vôlei… Mas foi no Clube Atlético Silvicultura, no Horto Florestal, em São Paulo, que ela entrou para o time de futebol pela primeira vez. Deu tão certo que aos 14 já jogava no São Paulo como aspirante e depois de 6 meses sob o comando do técnico Zé Duarte já subia para o time principal. Depois a seleção, o Santos, o futebol russo… Mas sempre com os pés no chão.

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Sorte nossa que desde o ano passado é ela quem está à frente da Coordenação do Futebol Feminino na Federação Paulista de Futebol. Aproveitando toda a sua experiência como ex-atleta, técnica, educadora e palestrante, ela parte para ajudar a corrigir o curso da modalidade, que já podia ter visibilidade e condições dez vezes melhores do que as alcançadas até aqui.

Aline, ou Pellê, como foi carinhosamente apelidada no meio, topou conversar com a gente e fomos fazendo esta entrevista exclusiva por etapas, para não atrapalhar o seu trabalho diário de planejamento, conversas com dirigentes, pesquisa de experiências internacionais bem sucedidas e busca de parcerias para fazer o futebol feminino decolar de vez, no estado e no país. “E quer saber?” – diz ela – “talvez seja a maior responsabilidade que já abracei na minha carreira. Acho que de tudo que já vivi e contribuí com a modalidade este é sem dúvida o meu maior desafio”.

E é sobre esse grande desafio que ela se abriu conosco…

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Museu do Futebol

A Bola que Pariu: Esta inovação de ter uma mulher com a vivência de campo e dos bastidores do futebol animou clubes e atletas. Como você vem se sentido no cargo há pouco mais de 6 meses?

Aline Pellegrino: Olha, apesar do pouco tempo, eu estou supermotivada e acho que já fiz alguma diferença. Estar aqui como coordenadora para colaborar com a modalidade não só em São Paulo, mas no cenário brasileiro, é um passo importante e acredito que independente de grandes mudanças mais práticas que ainda estão por vir, os clubes e as atletas já entenderam que têm uma referência aqui dentro (na Federação), que sou eu. É como se você chegasse numa festa muito legal e muito chic, onde você não conhece ninguém… Hoje eu sinto que eles sabem que não estão sós e têm com quem falar. Sabem que em qualquer dificuldade, contam comigo, sabem que eu os represento e vou sempre tentar ajudar, criando processos para que os antigos erros não se repitam.

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foto: Rodrigo Corsi

Bola: Você esteve reunida com os presidentes de clubes que já investem em futebol feminino. Quais são os planos reais para incentivar a categoria? Ainda faltam resultados para que o profissionalismo chegue perto do masculino e ela seja mais prestigiada?

Pellê: Dos 14 times que participaram do Campeonato Paulista do ano passado eu tive muito contato com todas as diretorias, não necessariamente com os presidentes, mas os principais representantes desses clubes e suas diretorias e suas parcerias para a realização do futebol feminino. As secretarias de esporte também têm papel importante nessa discussão e eu tenho feito a ponte entre eles para buscar novos projetos para uma categoria consistente, a partir das bases. Na verdade a gente está falando de uma modalidade que tem aí só 40 anos, desde que caiu a proibição em 81, isso em termos de esporte é pouco tempo e está se desenvolvendo de forma embrionária. Os resultados, dentro desse pouco tempo, são válidos e apontam para um interesse maior dos patrocinadores, inclusive, mas não se pode cobrar muito, em termos de resultados, enquanto nos encontramos em fase de desenvolvimento. Então assim: o futebol feminino, como um todo, é um processo ainda não de colher frutos, mas de plantar sementinhas…

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Luciano Ribeiro

Bola: Quais sementinhas estão hoje bem plantadas, o que podemos esperar de novidades para este ano? O rebaixamento começa a valer no Paulista? Teremos as 2 divisões que você sugeriu? A Copa Paulistana está confirmada?

Pellê: Olha, vivemos um momento de reflexo mundial do crescimento da modalidade. Seja a partir da Fifa ou da Conmebol, que também já começou a sinalizar algumas coisas, a própria CBF, priorizando vagas para os clubes que apostem também no feminino… São essas sementinhas a que me refiro e elas estão sendo plantadas. Claro que cada entidade tem o seu planejamento estratégico de curto e longo prazo, tem lá suas limitações e uma série de fatores a considerar. Na Federação Paulista, eu posso dizer só de seis meses para cá, mas os planos são muitos. Começamos o ano com uma agenda e ações que vêm sendo muito discutidas. Algumas coisas não acontecem com muita facilidade, por exemplo, com relação à primeira e segunda divisões, é um assunto que antes de entrar em vigor tem que ser conversado com os clubes, entrar nas regras e obedecer critérios para entrarem no regulamento. São idéias que eu, Aline, como coordenadora lancei e acredito que funcionem, mas tudo isso eu passo para os clubes, eles dão sugestões e nada entra em vigor assim de imediato. Para este ano, se tudo der certo, colocamos estas duas divisões no regulamento para vigorar em 2018. A discussão da categoria de base está bem encaminhada no sentido de fazer uma competição sub-17 e a Copa Paulistana está prevista para a janela do segundo semestre, que existe e está em aberto, mas só poderemos confirmar depois de resolver outras coisas mais importantes ainda do primeiro semestre.

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peru.com

Bola: A gente sabe que hoje em dia o sonho de “viver do futebol” para as mulheres é para uma pequena minoria que se sobressai e, infelizmente, jogadoras de alto rendimento acabam optando pelo mercado estrangeiro. Você sente que apesar de lentamente isso está mudando?

Pellê: Sim, é como eu disse antes, estamos em fase de desenvolvimento e nesta fase é natural que as mudanças sejam lentas. Por enquanto, a realidade é que essas jogadoras que mais se destacam na Seleção Brasileira, no Campeonato Brasileiro, no Paulista, tem já agentes, empresários, sei lá o nome que eles acabam dando para esses caras que se especializam nessas negociações e entendem de mercado. Então eles sabem que na Ásia, na Europa, Estados Unidos, eles conseguem oferecer um pouco mais para uma jogadora. Então, uma jogadora que ganhe aqui 3 mil reais e recebe uma proposta para receber 3 mil dólares, 3 vezes mais, pode não pensar duas vezes. Claro que vai depender de cada jogadora, do momento em que ela está. Às vezes pode ser que se ela saia do país, acabe se afastando da Seleção Brasileira… Tudo deve ser posto na balança e é uma escolha delicada. No masculino, guardadas as proporções, é a mesma realidade. Quem se destaca, infelizmente, sempre será procurado com ganhos financeiros. É o mercado do futebol, bom para alguns, sem dúvida, mas que traz essa dura realidade. Como ex-atleta, eu aconselharia essas jogadoras a pesarem todos os prós e contras de ir jogar fora: você tem que estudar, então além de um bom salário é importante exigir uma bolsa de estudos 100%. E isto aqui hoje não é nada fácil. Mas viver integralmente de futebol é sempre um risco. O Brasil caminha para criar estruturas melhores no feminino para tentar segurar nossos talentos aqui, mas a disputa ainda é cruel. Hoje o Santos tem as carteiras profissionais das meninas assinadas, então não é qualquer clube de fora que vai conseguir seduzir essas jogadoras com propostas financeiras que não sejam muito vantajosas. Mas o Santos ainda é um caso fora da curva, não é todo o clube ou projeto de futebol feminino atual que consegue arcar com uma folha de pagamento de 20, 22 jogadoras, com todos os encargos e garantias. Acho que todo mundo tem que ter o pé no chão, entender em que patamar está e dentro desse contexto tentar trabalhar da melhor forma possível a questão da remuneração das atletas e a instrução delas.

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Paixão Canarinha

Bola: Que conselho você daria a uma menina de 8, 10 anos que já sonha em jogar profissionalmente?

Pellê: Ahhhh… o primeiro é que ela não desista do sonho e corra atrás! Acho que é importante também ter um plano B (às vezes C e D)… Porque nessa idade ainda é difícil. Uma boa base familiar é super importante, seja ela convencional, ou não, mas que a apoie e a convença sempre a não parar de estudar, até porque uma coisa é a paixão pelo esporte, outra é você descobrir se é talhada para ser uma atleta de alto rendimento, o que só se vai descobrir com o tempo, então é sempre bom ter uma outra opção, pois o futebol pode se tornar apenas um hobbie. Mas o cenário do profissionalismo é para se sonhar, sim, se ela tiver hoje 8 anos, pois eu tenho certeza que em dez anos, as coisas terão evoluído muito no contexto da categoria. Estamos trabalhando pra isso.

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Trivela/UOL

Bola: Teremos um Campeonato Brasileiro competitivo em 2017? Como anda o interesse das TVs nas transmissões?

Pellê: No ano passado, o seguimento de transmissão pela internet teve um número significativo de pessoas assistindo e acho que podemos cada vez mais aproveitar e utilizar desse espaço. As TVs tem suas grades e conseguir encaixar todos os jogos femininos que estão acontecendo é mais difícil, mas elas têm estado nos momentos pontuais. No Campeonato Brasileiro tem uma cobertura grande e significativa. As competições principais são os estaduais, Paulista acontecendo de abril à agosto e Brasileiro A1 e A2, de maio à agosto. Tanto o site da FPF quanto o da CBF irão fornecer as informações desses jogos. Eu, na minha função de coordenadora, farei todo o esforço possível para que a visibilidade do futebol feminino seja cada vez maior.

 

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