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05.02.2017

Postado por Colaboradoras

O início do fim de uma falácia

Tombense 0x3 Atlético-MG – Campeonato Mineiro 2017

Fred realizou o sonho da sua vida e veio para o GALO no meio do ano passado – imagina-se para repor, antecipadamente, uma provável venda do Pratto – e, com a permanência do gringo, instaurou-se uma dúvida na torcida atleticana: como conciliar os dois centroavantes no mesmo time, sem perder o equilíbrio (que, convenhamos, já não é o nosso forte há algum tempo)?

Desde então, criou-se uma nova pauta na imprensa esportiva brasileira, quase que invariavelmente com a conclusão final de que “Pratto e Fred não podem jogar juntos”. Quantas vezes já ouvimos essa frase? Principalmente por parte da imprensa paulista, que aparenta ser completamente apaixonada por nosso matador argentino (e quem não é, não é mesmo?) e deseja, desesperadamente, levá-lo para aquelas bandas.

Pois esta atleticana que vos fala, com o perdão da palavra, acha isso tudo uma grande bobagem. Ora, devem ser escalados no time titular os melhores jogadores à disposição. Ainda que eu goste do Maicosuel, ache o Otero um jogador interessante e confie no potencial no Clayton, ver na reserva dos mesmos Lucas Pratto, centroavante da seleção argentina e titular em qualquer outro clube do país, me causa enorme indignação. Isso porque, embora o elenco ofensivo do Atlético seja repleto de opções e um dos melhores do país, causando, de fato, a chamada “dor de cabeça boa” no treinador, cabe ao técnico montar o time com as melhores peças que ele possui, mesmo que isso signifique alterar o sistema de sua preferência.

O famigerado 4-2-3-1 não funciona com Pratto, porque ele não conseguiria atuar defensivamente na ponta, sem, com isso, sacrificar seu poderio ofensivo. Então, uma vez que o Urso, pelo menos até a próxima janela de transferências, ficará no GALO (para nossa alegria), é hora de optar por outro esquema que privilegie as características de nossos melhores jogadores. Até porque, não é como se nossos meias-atacantes estivessem fazendo grande diferença no ataque já que, claramente, esse esquema ainda depende muito do talento individual do Robinho.

Felizmente, o bom técnico Roger parece também ter percebido isso e, diante do baixíssimo número de finalizações a gol nos últimos dois jogos, optou em testar contra a Tombense um novo desenho em campo com três volantes, protegendo mais o Cazares e a defesa no chamado “losango” para, assim, escalar Pratto e Fred à frente, em um 4-3-1-2.

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Obviamente, embora o time da Tombense seja um dos mais bem armados do interior mineiro, ao realizarmos qualquer análise, não podemos desconsiderar a enorme disparidade técnica entre os dois times. Todavia, da mesma forma não se pode ignorar que o time do GALO, apesar de ter mantido quase que a totalidade de seu elenco, está passando por profunda reformulação coletiva, iniciando novo trabalho com propostas bastante diferentes do anterior – o que demanda muito treinamento e, sobretudo, tempo. Esta é razão pela qual os resultados positivos nesse começo de temporada também não podem ser desconsiderados, sob a alegação de que o time da capital, ainda em formação, “não fez nada mais do que sua obrigação”.

Feitas tais ressalvas e considerando as particularidades dos times, afirmo que gostei do jogo, que acho que serviu como um começo para afastar, de uma vez por todas, essa falácia de que dois grandes jogadores, como Pratto e Fred, não podem jogar juntos. Ora, embora atuem como centroavantes – o primeiro, por opção dos treinadores desde que chegou ao Brasil e o segundo, por característica própria, consagrado na posição por onde passou – ambos possuem estilos muito diferentes, sendo o argentino, apesar de corpulento, muito mais móvel que Don Fredon, podendo, como um 2º atacante, além de finalizar, tabelar, marcar, atrair a defesa e abrir espaços.

Embora nenhum dos dois tenha marcado gol ontem – mesmo com chances claras para tal – a presença e atuação deles em campo, nitidamente atraindo e confundindo a defesa da Tombense, pôde ser vista no jogo com uma maior liberação de nosso meio campo, viabilizando as frequentes chegadas ao ataque de Cazares (uma bola no travessão e uma rente ao gol, além de belíssima tabela com o Fred no 1º tempo), Otero (com um GOLAÇO digno de Puskás), Gabriel (menino MUITO bom de bola, de quem sou cada vez mais fã) e, claro, do nome do jogo, o estreante (e incrivelmente iluminado) Danilo, autor de dois gols e uma assistência, dando indícios de que, versátil como era no América-MG, pode ser uma boa opção para o meio campo nesse esquema de três volantes.

Bruno Cantini/Atlético

Bruno Cantini/Atlético

O que vimos foi apenas um começo e os dois atacantes ainda precisam – e irão – se entrosar mais. Da mesma forma, nosso meio de campo também irá não apenas assimilar com mais naturalidade o estilo do Roger, colocando em prática os ensinamentos do treinador, como, com a futura entrada do Elias – que, sem nenhum clubismo, considero ser o melhor 2º volante do Brasil – mais Robinho, Luan ou o eventual novo volante que esperamos que seja contratado, ganhar muito em qualidade técnica, dando ainda mais suporte ao ataque.

Inegável, ainda, que o Roger terá muito trabalho para acertar nossa defesa –calcanhar de Aquiles nos últimos anos. Sem desmerecer o arrumado time da Tombense, demos a eles muito espaço, principalmente pelo lado direito, quando desciam com velocidade. Falta, também defensivamente, a chamada compactação. Todavia, considerando que ao final do ano passado nossa marcação individual passou a ser quase que “cada um por si”, incutir no time uma consciência coletiva demanda tempo e somente veremos mudanças com o passar dos jogos – que, entre Campeonato Mineiro e Primeira Liga, servirão como uma boa pré-temporada para nosso principal objetivo no semestre, o bicampeonato da Libertadores.

Bruno Cantini/Atlético

Bruno Cantini/Atlético

Tudo isso somado, não ao placar elástico, mas ao maior volume de ataque apresentado, e, sobretudo, à confiança no treinador e no elenco, me deixa esperançosa com um excelente ANO DO GALO (não só na China, hehe). Nós atleticanos, sanguíneos e apaixonados como poucos, depois da separação forçada que nos é imposta a cada dezembro, iniciamos o ano cheios de saudades e ansiosos por ver nosso time voar, ainda mais por termos terminado 2016 de forma melancólica, perdendo um título nacional.

Contra a Tombense, após dois jogos decepcionantes, vislumbramos o surgimento de um bom time, capaz de alcançar grandes objetivos na temporada. Temos todos os ingredientes para isso. Vamos deixar jogadores e comissão técnica fazerem a parte deles, enquanto nós, como sempre, fazemos nossa parte nas arquibancadas. No mais, por favor, Roger: deixa isso de olhar o jogo do lado de fora com a gente. Lucas Pratto tem que estar sempre dentro de campo.

Saudações alvinegras.

 

Por Renata Olandim

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