Internacional, Campeonato Gaúcho
22.03.2018
Postado por Colaboradoras
Inter 2 x 0 Grêmio – Quartas de final Campeonato Gaúcho 2018
O futebol é um certo microcosmos em que o tempo e o espaço correm desprendidos da realidade, é como se por 90 minutos vivêssemos em uma realidade paralela, assim como um filme do David Lynch. Eu que sou cética, ateia praticante, que não acredito em signos, nem em ritos, nem em magia e nem no destino, tenho no Colorado a minha única metafísica possível.
E ontem havia sido um dia de cão, filas, boletos que se cumulam, a aflição neurótica de viver em uma grande metrópole, a saudade do pampa, a preocupação com um pai doente, o acúmulo de trabalho e todas as agruras de viver em tempos difíceis. Tudo apontava que era um daqueles amargos dias que tudo que podia dar errado, daria errado… quer dizer… nem tudo…
Após a amarga derrota do domingo passado e uma quarta-feira caótica em que o maxilar rangia de ansiedade, titubei se deveria submeter-me ao sofrimento de assistir ao clássico grenal 415. O bom senso e anos de terapia – que me ensinaram a não me expor em situações que me causam agonia e dor – me apontavam para desistir disso e contentar-me com uma xícara de chá. Mas a teimosia e a paixão incurável me falavam que não conseguiria ficar apática e fingir que nada estava acontecendo… como quase sempre na vida, fiquei com a segunda opção. Tem certas coisas que são impossíveis de controlar, e um derby é com certeza uma delas.
O embate entre Colorado X Grêmio nessa quarta-feira,22, foi um daqueles momentos épicos do futebol. Particularmente tenho um apreço especial por derrotar o coirmão quando ele está soberbo. Adoro ver um tombo tricolor, em especial, quando se acham os reis da cocada. Porque gremistas – em sua maioria – lembram-me um marreco descontrolado na cerca à procura do milho. Acredito que faço essa associação por culpa do Paulo Santana falando pelos cotovelos no Jornal do Almoço e aos marrecos que minha avó cuidava no quintal de casa, eles eram parecidos! Essa ligação que só quem nasceu e cresceu no Sul é capaz de entender.
Mas quanto a partida e os esquemas táticos do Odair e do Portaluppi? E os gols? E a posse de bola? Dane-se! Idiotas da objetividade podem se preocupar com isso, e existe incontáveis sites e resenhas que se predispõem a discertar minuto a minuto todos os números da partida. E eu, sinceramente, já parei de me preocupar em descrever esquema tático para provar meu conhecimento ludopédico. Hoje quero apenas falar o quanto ganhar o grenal salvou meu dia. O quanto fui dormir mais feliz porque o D’Alessandro cobrou aquela falta, aquele gol de falta com maestria! O quão bom foi ver aquele meio de campo trocando passes e envolvendo o adversário novamente.
O jogo de ontem foi daqueles que me fazem sentir um pouco de pena dos que não torcem, ver seu time ganhar do rival em um dia trevoso, é um daqueles raros momentos que é possível nos deslocar um pouco da realidade, só por alguns minutos ter uma mínima catarse, um pouco de euforia em um meio de semana melancólico e desgastante. O que alguns chamam de ópio, eu chamo de paixão, e dessas pra valer, dessas que duram a vida toda. Porque o Inter – hoje – me tirou um pouco o tédio, o nojo e o ódio. Amanhã a vida segue seu rito cotidiano, mas por essa noite não.
Leia a versão gremista da partida
Por Josie Rodrigues